domingo, 2 de maio de 2010

Papo Cabeça 001

Meus caros amigos e leitores do blog Midnight Drive-In, pela primeira vez eu publico uma entrevista exclusiva aqui no blog! Pois é, galera, muito bacana, não? Minha primeira entrevista é com um leitor assíduo deste blog, o qual me deu a honra de enviar algumas perguntas sobre o filme O Reino (crítica abaixo). Como o filme tem uma temática bastante atual, envolvendo a situação dos EUA no Oriente Médio, achei conveniente e interessante entrevistar um professor gabaritado no assunto que possa ampliar ainda mais a reflexão e a discussão de um tema tão debatido ao redor do mundo inteiro, retratado de maneira genial no filme citado.

Nosso entrevistado, que inaugura a seção Papo Cabeça do blog, é o Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), bacharel em direito e professor universitário Julio Cesar Borges dos Santos, que mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Autor de 5 livros e pesquisador da área de Direito Internacional e Relações Internacionais, o senhor Julio Cesar Borges dos Santos mostrou muita boa vontade em responder cinco perguntinhas relacionadas ao filme O Reino e outras obras que exploram a geopolítica atual do Oriente Médio - o cinema como instrumento de retratação da realidade. Por isso, caros amigos, aproveitem essa entrevista muito bacana e alimentem a discussão no fórum. Gostaria de agradecer ao professor Julio Cesar por ter a disposição de responder essas perguntas. No mais, meus caros, enjoy!


Entrevista: Mestre em Relações Internacionais Julio Cesar Borges dos Santos

Professor Julio César - Inicialmente quero agradecer pela oportunidade de debater em seu Blog um tema tão atual e importante.

Midnight Drive-In - Primeiramente, o que o senhor achou do filme?

PJC - Eu gostei bastante, sobretudo das críticas veladas à política externa e à hipocrisia das autoridades norte-americanas.

MDI - Na sua opinião, O Reino condiz com a situação atual que o Estados Unidos passa nos Iraque?

PJC - O Reino é um entre tantos outros filmes que estão abordando aspectos importantes da situação no Iraque. A grande verdade é que a maior potência do mundo conseguiu alterar o regime no Iraque, mas a tão sonhada democracia ainda deve demorar para chegar, se chegar!
MDI - E quanto ao aspecto emocional dos personagens, claramente mostrado na cena final do filme. O senhor acha que existe, dentro das camadas populares, um ódio mútuo entre os norte-americanos e os iraquianos?

PJC -Eu não diria que é um sentimento generalizado, mas certamente ele existe. O cidadão comum no Iraque, aquele que tem de ir ao mercado de manhã com medo da explosão de um homem-bomba ou de um carro-bomba, tem dificuldade em enxergar a democracia da qual os americanos tanto falam.

Por outro lado, o cidadão comum nos Estados Unidos, após 8 anos de manipulação e paranóia da administração Bush, tem muita dificuldade em compreender outras realidades. Além disso, também não se pode negar que é muito difícil para este cidadão entender a necessidade de diplomacia quando ele vive no país mais poderoso do mundo. A administração Bush explorou muito bem esta circunstância.

MDI - É interessante observar que há, atualmente, em Hollywood, vários filmes extremamente atuais e políticos sobre a Guerra do Iraque. O que o senhor acha da retratação desses temas tão polêmicos nessas obras?

PJC - Eu acho excelente, não só para quem gosta de cinema, como também para quem se dedica a estudar e entender a realidade internacional. Filmes como O Reino, Guerra ao Terror e Zona Verde, tocam questões fundamentais para a compreensão das contradições que envolvem a política externa dos Estados Unidos neste início de séc. XXI.


MDI - Além de entretenimento, podemos considerar O Reino como uma aula de geopolítica para o público?

PJC - Sim, com certeza. E eu gostaria de ressaltar novamente os filmes Zona Verde e Guerra ao Terror, os quais nos dão alguma idéia do que está acontecendo naquela região do mundo.
É importante lembrar que apesar de os Estados Unidos já estarem na era pós-Bush e continuarem a ser a nação mais poderosa de todos os tempos, nunca o antiamericanismo foi tão intenso. Os EUA não estão em declínio, todavia, seria bom se conseguissem compreender o verdadeiro papel que a nação mais poderosa deve exercer nas relações internacionais.

O blog Midnight Drive-In gostaria, mais uma vez, de agradecer a participação do professor Julio Cesar. Muito Obrigado!

3 comentários:

  1. Muito interessante!
    Os EUA conseguem usar o Hard power como nenhum outro pais, porem sem o soft power serah apenas desperdicio de dinheiro e piora a sua imagem!

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  2. Você tem toda razão Godinis. É por isso que cineastas contestadores como Oliver Stone e Michael Moore, só para citar alguns, devem ser respeitados. Para os leitores que não conhecem, o termo Hard Power refere-se à truculenta política, adotada no governo Bush, da imposição à base da força...

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