sábado, 24 de julho de 2010

Sherlock Holmes (2009)


Sherlock Holmes é o blockbuster perfeito: divertido, inteligente, premiado e lucrativo. E todos esses adjetivos não são empregados em vão para este filme, pois a obra é tudo isso e muito mais.


A escolha de Guy Ritchie mostrou-se um grande acerto, pois o cara é, para mim, um baita diretor, com uma linguagem cinematográfica muito original (não há como negar: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes é um dos filmes mais legais da década de 90). Apesar de seu estilo, em Sherlock Holmes, estar bem mais discreto, ele ainda imprime sua marca pessoal na obra efetivamente, em detalhes como a narração em off de Holmes (dialogando com o expectador), as cenas de luta e a câmera lenta.


Outro ponto de destaque é a escolha do elenco: Robert Downey Jr está excelente como o detetive vitoriano e Jude Law não fica atrás com seu Watson. Mark Strong e Rachel McAdams também estão ótimos, mas sem o destaque da dupla principal.



O filme conta com uma belíssima direção de arte, reproduzindo uma Londres vitoriana suja, perigosa e desagradável. Não há a beleza do campo retratada nas obras de Jane Austen; aqui temos a Inglaterra industrial que conhecemos pelos livros de história. Esse visual, atraente e sombrio contribui para a trama que envolve uma seita sobrenatural, um assunto de bastante interesse dos ingleses no século XIX, que atraiu pessoas como o próprio Conan Doyle - um dos aspectos mais interessantes do roteiro.


A trilha sonora merece um parágrafo à parte. Composta pelo alemão Hans Zimmer e lembrada no Oscar, trata-se da música mais original da última temporada, misturando música cigana e irlandesa, ao som de diversos instrumentos como banjos e percussão africana. É agitada, inteligente e cativante como a obra (clique aqui para escutar o tema do filme no Youtube).


O filme conta com um roteiro bem amarrado e inteligente que só entrega a resolução do mistério ao final, podendo frustrar os expectadores afoitos em solucionar a trama da obra. Apenas Holmes consegue decifrar o enigma que envolve o filme. Tal enigma é digno de uma boa história de Holmes.


Sherlock Holmes é um excelente início de franquia, uma obra acima da média, que acerta em todos os pontos. Recomendadíssimo!

A Recruta Hollywood (Major Movie Star, 2008)

Eu consigo enxergar, em cinco ou mais anos, a chamada desse filme na TV Globo, mais especificamente na Sessão da Tarde. Afinal, A Recruta Hollywood é uma dessas comédias indolores e bobinhas, recheada de clichês que a Globo adora passar em suas tardes semanais. Mas isso não significa que A Recruta Hollywood seja um filme ruim; pelo contrário, trata-se de um filme razoavelmente divertido, que pode agradar uma boa parcela do público, salvo alguns defeitos óbvios da película.


A obra é um misto de crítica ao mundo de aparências de Hollywood e às pessoas que não têm o controle de suas próprias vidas – caso da personagem Valentine (Jessica Simpson) que é uma atriz não muito respeitada, que resolve entrar para o Exército Americano com o intuito de colocar sua vida nos eixos, após uma série de sucessivas decepções.


A Recruta Hollywood tem muitos defeitos, como a trama previsível e a já citada lotação de clichês. Contudo, o filme tem (poucas) cenas engraçadas, que me arrancaram risadas genuínas. Além disso, Simpson está uma gracinha no papel principal (para ser sincero, eu só assisti o filme, por causa do pôster acima!) e a moça dá conta do recado, sustentando a obra com carisma e graça.


A Recruta Hollywood é, enfim, uma obra bem bacana e engraçada. Apesar de todas as suas falhas, eu aproveitei a projeção. Talvez, daqui a alguns anos, quando eu estiver numa tarde assistindo televisão aberta, eu possa rever A Recruta Hollywood. Daí, se você também estiver assistindo, diga-me se é ou não é uma comédia bobinha.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Valhalla Rising (2009)


Lirismo e brutalidade juntam-se nesta obra magnífica do dinamarquês Nicolas W. Refn sobre um guerreiro caolho que, depois de escapar de um bando de cruéis bárbaro que o mantinham como prisioneiro, ele parte com um bando de cruzados para a terra prometida. A principio, o filme inteiro resume-se a essa ínfima sinopse.

É interessante que, uma boa parte das críticas negativas se apóia sobre o fato da trama não ser muito evidente, assim como o mote do filme. Verdade seja dita Valhalla Rising não é um filme explicativo; pelo contrário, é uma obra contemplativa. Assim, um público ávido por explicações e histórias bem definidas pode acabar se decepcionando com o ritmo da obra.

No entanto, eu vejo aí um de seus grandes atributos: Valhalla Rising é um filme difícil, quase sem falas, completamente diferente de TUDO que eu já assisti na minha vida. Trata-se de um filme de ritmo único e lento, mas sem deixar de ser interessante.

Se vocês me pedissem para estabelecer o tema da obra, eu não saberia dizer. Podemos encarar que o filme trata de um diálogo entre o homem e a natureza; ou também sobre a brutalidade dos homens numa época de tanta violência e brutalidade como foi a Idade Média. Acredito que um dos temas do filme é a jornada que alguns homens fazem, fugindo de um inferno para um outro, ainda pior. O guerreiro caolho de nome One Eye (interpretado com crueza por Mads Mikkelsen) escapa de seus torturadores para uma viagem infernal e um epílogo pior ainda. Alguns homens não conseguem fugir do mal e One Eye é um desses...

A obra é ainda, recheada de muitos atributos técnicos, em especial a fotografia magnífica do filme. A obra foi realizada em território escocês – terra dos celtas. Trata-se de um cenário de tirar o fôlego, muito bonito mesmo. Dificilmente, algum outro filme este ano apresentará uma fotografia tão bela.

A direção de Refn é segura e consciente, porém sem muito estilo pessoal (eu pelo menos não o percebi). A interpretação crua e seca de Mikkelsen ajuda muito no tom da obra, que em muitos momentos choca pela violência mostrada. Não se trata daquela violência típica de filmes da série Jogos Mortais, mas aquela coisa mais realista e incômoda, completamente inesperada em alguns momentos, realista por excelência.

Dificilmente, a obra chegará ao conhecimento do grande público. Contudo, para aqueles que apreciam um filme diferenciado, com muitas interpretações possíveis – ótimos para serem analisados em rodas de discussão – Valhalla Rising torna-se, praticamente, obrigatório.

2012 (2009)


Conseguiria escrever parágrafos e parágrafos sobre a insipidez de 2012: um típico produto hollywodiano, feito para impressionar os nossos sentidos. Contudo, assim como o geólogo Adrian Helmsley, interpretado pelo ótimo ator Chiwetel Ejiofor, eu enxergo um pouco de humanidade na obra de Roland Emmerich, mesmo que esta seja de uma ingenuidade...

Eu explico: 2012, mesmo sendo recheado de cenas de catástrofes impressionantes, tenta passar algumas mensagens morais para sua platéia. Além dos óbvios clichês no roteiro e personagens típicos nos filmes desse gênero (o pai divorciado que tenta a aproximação dos filhos é um exemplo disso), 2012 projeta inúmeras pílulas morais sobre os expectadores como a importância da fraternidade entre os seres humanos.

Essa tentativa de transformar 2012, de um produto para uma obra, fica no meio do caminho, algo como um intermediário entre Independence Day e O Dia depois de Amanhã: enquanto o primeiro abraçava os efeitos especiais e dispensava a inteligência, o segundo tentava impor mensagens morais de companheirismo e humanidade com uma explicação científica convincente. Esses dois filmes, que eu adoro, funcionavam por estabelecerem suas prioridades ao longo da projeção; 2012 tentou ser um pouco de ambos (misto de visual/conteúdo) e acabou falhando. Mas funciona como divertimento passageiro.

sábado, 10 de julho de 2010

À Queima Roupa (Family of Cops, 1995)


Bem trivial esse À Queima Roupa. Trata-se de um filmeco policial, sem grandes atrativos, a não ser a presença do excelente Charles Bronson, que aqui, foge um pouco de seu lado badass, matador de bandidos, para assumir a face de Paul Fein, um policial veterano que resolve reunir seus filhos para sua festa de aniversário.

O policial consegue unir seus 4 filhos para a tal festa, incluindo a filha pródiga, Jackie (Angela Featherstone), uma típica rebelde sem causa, que mora longe da família. Por seu espírito inquieto e inconseqüente, ela acaba se metendo numa trama que envolve o assassinato de um ricaço, morto após passar uma noite com ela. E seu velho pai terá que descobrir quem realmente cometeu esse crime, para evitar a prisão de sua filha.
Trata-se de um roteiro bastante comum, sem grandes atrativos e, claro, cheio de clichês. O filme conta com a presença do sempre carismático Bronson, que não interpreta com a mesma frieza e brutalidade demonstrada na série Desejo de Matar. Aqui, ele faz um tipo mais sensível e frágil, mas não se enganem: em alguns momentos do filme, Paul Fein lembra muito o lendário Paul Kersey! O filme ainda conta com a presença de Daniel Baldwin, que me surpreendeu por não estar tão canastrão como na maioria esmagadora de seus filmes.

À queima Roupa lembra aqueles policiais bobocas que costumavam passar na TV Globo sábado à noite, no Supercine. Por isso, o filme tem certo ar saudosista para quem curte esse tipo de obra mamão-com-açúcar, que te entretém durante a projeção e, após seu término, ninngém se lembra nem do nome do personagem principal. No fim das contas, para quem não exigir muito, À Queima Roupa pode agradar. Mas a obra não faz, de maneira nenhuma, jus à carreira do grande Charles Bronson.

sábado, 3 de julho de 2010

O Livro de Eli (The Book of Eli, 2010)


Não há dúvidas: até o presente momento, o melhor filme de 2010 não envolve mitologia grega ou super heróis: trata-se da saga do andarilho Eli, que caminha por terras devastadas levando consigo um poderoso livro, uma obra capaz de controlar sociedades e trazer esperança: a Bíblia.

Recheado de uma simbologia rica e intrigante, O Livro de Eli não se sustenta apenas como uma crítica juvenil ao poder que a religião exerce sobre os homens. Isso é interessante, pois nos momentos iniciais da obra, o tom de crítica parece imperar sobre a obra. Contudo, o filme passa uma mensagem estranhamente cristã após seu epílogo.

Trata-se de um roteiro forte e maravilhoso, escrito pelo novato Gary Whitta. Contudo, a direção dos irmãos Hughes é o grande traço diferencial do filme. Além, é claro, do formidável duelo de interpretações entre Denzel Washington e Gary Oldman, que são o herói e o vilão da trama, respectivamente.

O visual do filme é fantástico. Algumas cenas capturadas pelos diretores dificilmente sairão da sua cabeça, como o tiroteio numa casa no meio do deserto – um plano-seqüência muito bem construído. O final do filme é também bastante impactante e cenas de luta violentas e bem filmadas.

O Livro de Eli é, enfim, fascinante e poderoso. Meus comentários não farão jus à grandiosidade da obra. Por isso, eu paro por aqui dizendo-lhes o seguinte: assistam. Assistam esse filme!

Testemunha Muda (Mute Witness, 1994)


Esse filme é definitivo como prova de que bom cinema não é feito de grandes orçamentos ou cenas de ação mirabolantes. Em Testemunha Muda, temos um belíssimo exercício de suspense, orquestrado pelo diretor Anthony Waller. Trata-se de uma obra de baixo orçamento, sem atores famosos (a não ser a participação de Alec Guinness – breve e misteriosa), mas com uma história envolvente e muito talento por parte do diretor (que 3 anos depois realizaria o fraco Um Lobisomem Americano em Paris).

Testemunha Muda aborda um tema já comum no cinema: os intrigantes filmes Snuff – fitas em que os atores morrem de verdade. Na obra analisada, acompanhamos o calvário da maquiadora americana Billy Hughes (Marina Zudina), uma moça muda que trabalha na produção de um filme de horror vagabundo na Rússia. Um dia, após ser trancada, acidentalmente, depois do expediente no set de filmagem, ela presencia a filmagem de um filme snuff.

É interessante como o diretor soube criar tensão nas cenas de perseguição. Isso sem contar o interessante roteiro que aborda a temática de maneira interessante e instigante. Muito perspicaz a exploração da mudez da personagem, um elemento criativo bastante bacana.

Como o filme se passa na Rússia, outro fator interessante é como ficamos, muitas vezes, perdidos como a personagem principal. Afinal, trata-se de uma língua completamente diferente e um alfabeto exótico para nós: o cirílico. Por isso, a sensação de desorientação da personagem se estende sobre nós.

É claro que o filme tem algumas falhas, como o humor deslocado, que em algumas cenas incomoda. Isso sem mencionar algumas péssimas performances, como a do ator Evan Richards, horrível como o diretor de cinema besta. No entanto, a presença de Marina Zudina compensa a falta de talento da maior parte do elenco restante.

Mesmo assim, essas falhas não comprometem o divertimento e a competência da obra. Testemunha Muda é um filme recomendadíssimo para qualquer um que goste de bom cinema.