segunda-feira, 23 de maio de 2011

A História de Ricky (Ricky-Oh, 1991)


Obrigatório para qualquer pessoa que aprecie o cinema trash, A História de Ricky é um verdadeiro clássico do gênero, que completa 20 anos de idade e permanece tão bom e melhor que muito filme lançado por aí. É claro que é um filme de público limitado, mais indicado para os fãs de cinema bagaceira ou para aqueles que querem se divertir com uma estória absurda regada pelo exagero. Quem tiver cabeça aberta poderá garantir uma sessão, no mínimo, divertida.


Acontece que desde o início do filme, quando o nosso herói Ricky chega à prisão e, ao passar pelo detector de metal, é barrado, pois ele tem algumas balas no corpo resultantes de um tiroteio (ele não as extraiu porque as guarda como lembrança da tal ocasião), A História de Ricky não se leva a sério. O único propósito do filme é nos divertir. E o filme consegue isso com folga.


O motivo pelo qual Ricky é preso é revelado lá pela metade da fita. Basta sabermos que ele será constantemente torturado pelo chefão da prisão, que incita outros presos, extremamente perigosos, a atacarem Ricky. E Ricky tem que lutar contra estes caras para sobreviver.



O problema é que Ricky descobrirá um segredo do diretor da prisão que despertará sua fúria, de tal forma que o filme culminará num desfecho ultraviolento, com muito sangue e violência, além de um improvável moedor de carne gigante!


Trata-se de um filme alucinante, recheado de cenas grotescas e muita porrada. Mas esqueça a beleza das artes marciais porque aqui cada soco decepa a parte do corpo de uma pessoa. Desde membros cruelmente dilacerados, olhos arrancados, intestinos extravasados – todo tipo de violência se faz presente em A História de Ricky, para a alegria dos fãs do cinema oriental gore. O exagero domina.


O bacana é que a estória aposta num maniqueísmo básico e que funciona perfeitamente para não distrair o público do diferencial da obra: o visual absurdo e brutal. Em certos momentos, o filme me lembrou o excepcional Ichi The Killer (leia a crítica aqui), mas sem toda a densidade e crítica que aquela obra carregava.


Mas não estou desmerecendo A História de Ricky, pois este filme é muito bacana mesmo. Em vários momentos eu fiquei rindo de todo o exagero que banhava meus olhos. É um filme realmente único que merece ser conhecido...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

The Maze (2010)


Gostaria de entender a cabeça de certos diretores e produtores. Para que levar uma obra adiante se o seu roteiro é uma porcaria completa? Para que continuar uma filmagem se os seus atores são extremamente ruins? Por que filmar um filme de terror absolutamente previsível e chato, cheio de clichês e com uma tentativa de reviravolta na trama tão patética que chega a dar pena? Enfim, são muitas as perguntas envolvendo o porquê de obras como The Maze existirem; infelizmente, elas estão por aí, e cabe a nós, cinéfilos, assisti-las e alertar os incautos da ruindade da fita.


The Maze (traduzindo: O Labirinto) é um filme de terror, do subgênero slasher (filmes onde se tem um maníaco assassino perseguindo e eliminando o elenco com doses acentuadas de violência). Quando bem feitos, os slasher nos trazem, pelo menos, diversão. A maioria, no entanto, se beneficia de um belo elenco feminino para compensar a falta de inteligência com moças em roupas mínimas. The Maze não consegue ser divertido e não traz o elemento nudez em seus arrastados 90 minutos de duração, tornando a obra numa enrolação incrível e aborrecida, sem mérito algum (a não ser, talvez, quando ela finalmente termina).


5 jovens resolvem entrar num milharal em forma de labirinto no meio de uma noite fria (pois é, deem um desconto para a falta de inteligência dos personagens, senão vocês simplesmente não irão assistir o filme). No labirinto mora um maluco com uma capa vermelha que irá matar cada um destes jovens com suas armas perfurantes e até uma pequena guilhotina artesanal (a única ideia interessante do filme, diga-se de passagem).


Bem, além da trama manjada e desinteressante, vamos falar do que me chamou a atenção negativamente: o visual do assassino é bastante questionável. Tudo bem que na capa do dvd, o vermelho da capa do maníaco com o milharal amarelado criou um efeito bacana. Contudo, no filme em si, o visual é meio ridículo, pois escolheram um ator fraco e magrelo para ser o bandido, parecendo, em muitos momentos, uma criança com capa de chuva em época de carnaval.


Voltando à previsibilidade da película, devo dizer que, para os acostumados com filmes do gênero, será muito fácil descobrir a ordem de mortes dos personagens. Isso sem falar na já comentada tentativa de reviravolta após uma hora de projeção, que tenta soar ímpar e inteligente, mas só consegue ser forçada e boba.


The Maze é também adepto da irritante mania de assustar pelo aumento súbito de sua trilha incidental (muito medíocre, por sinal), recurso utilizado amplamente por realizadores que não conseguem criar o mínimo de suspense com seus atores e com o roteiro que tinha em mãos. Ah! E como esquecer as cenas de morte que não conseguem nem ao menos transmitir agonia para o pobre expectador?

Em The Maze nada funciona. Não consigo imaginar um motivo sequer para indica-lo a qualquer pessoa. Talvez, durante uma maratona de filmes de terror que você vá fazer com seus amigos, The Maze sirva como aquele filme que quebra a tensão – um filme para se deixar rodando no dvd player enquanto o riso e a conversa rolam soltos sobre um filmaço que vocês viram antes. Porque um filme como The Maze não merece ser visto por ninguém, de verdade. Que continue inédito no Brasil!

O que The Maze quer ser quando crescer?


sábado, 14 de maio de 2011

Em Um Mundo Melhor (In a Better World/Haeven 2010)


O vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro da última edição do prêmio põe no chinelo os outros dez indicados a premiação de melhor filme. Sem brincadeira: o dinamarquês Em Um Mundo Melhor é um drama espetacular que, além de suas proezas cinematográficas, carrega consigo uma mensagem pertinente e relevante para o público.


Numa análise superficial, o filme trata sobre um assunto em voga: o bullying nas escolas. Entretanto, a diretora Susanne Bier foca suas lentes não só sobre a violência nas escolas, mas também em todos os ambientes possíveis e com todas as pessoas que o roteiro acompanha. O centro do turbilhão é o médico Anton (Mikael Persbrandt), um homem que se vê acompanhado pela sombra da maldade, tanto na África, onde trabalha, quanto com seu filho que sofre na mão dos colegas de escola.

Em Um Mundo Melhor ainda conta com a presença do interessante personagem Christian (William J. Nielsen), um jovem que defende o filho do médico dos outros colegas de uma maneira violenta e implacável, mostrando-se como o verdadeiro protótipo de um psicopata. E mesmo assim, nos compadecemos pelo personagem – uma maravilha atingida pela excelente interpretação do jovem ator e o roteiro explêndido.



O que mais me agradou foi a sensação de relevância passada durante a projeção. É fato que a obra sobrevive (e muito bem!) como manifestação artística. A densa estória apresentada parece ser tão plausível no mundo em que vivemos atualmente, onde, praticamente todo dia, somos expostos à situações que envolvem a violência e nós, que nos chamamos de racionais, agimos como animais egoístas.


Além da bela fotografia e elenco afiado, Em Um Mundo Melhor conta com roteiro preciso e uma direção eficiente da diretora Susanne Bier.


A verdade é que Em Um Mundo Melhor é uma obra humanista. Mesmo com toda a violação que transborda na vida dos seus personagens, o final da obra é otimista o suficiente para ainda acreditar nos homens, mesmo estes sendo imperfeitos e tão falhos. Ainda haverá uma centelha de decência e humanidade em nós. É possível existirem finais felizes. É como o personagem autodidata do livro A Náusea, de Sartre, dizia: "Há os homens!". E Susanne Bier afirma, após o fim da projeção: "Há os homens!". E eu concordo. E só por me convencer de que pode existir humanidade entre os homens, este filme já figura entre os melhores do ano.

domingo, 8 de maio de 2011

Assassino à Preço Fixo (The Mechanic, 2011)


É interessante notar como nós, blogueiros, ás vezes passamos por momentos de crise criativa. Creio que boa parte dessa sensação vem quando passamos a assistir um filme sentindo a obrigação de escrever sobre o mesmo depois. Quando a atualização do blog torna-se uma atividade burocrática, a produção de textos se torna um fardo e o blog fica meio abandonado.

Recentemente, passei por um momento destes. A verdade é que me sinto muito melhor agora para produzir textos mais competentes e bacanas, textos relevantes. E vejo que uma pequena crítica sobre Assassino à Preço Fixo é ideal para a minha atual situação.

Escrevo isso porque Assassino à Preço Fixo é um filme de ação extremamente burocrático e sem graça, que tinha potencial para se tornar, pelo menos, um ótimo filme de ação.

No lugar dessa promessa, ficamos com um exemplar bastante medíocre, que não nos cativa em nenhum momento. Reuniu-se um elenco competente e um diretor razoável (que de vez em quando acerta) em torno da refilmagem de um filme do saudoso Charles Bronson. Poderia ter dado certo, mas todos os excessos de um filme de ação hollywoodiano foram reunidos aqui, numa produção barulhenta e vazia, sem o menor impacto que poderia ter causado sobre o público.


Uma pena, pois é triste vermos Jason Statham sendo desperdiçado, pois o cara tem muito carisma e talento para as cenas de ação. Aqui ele interpreta um assassino profissional bastante competente, que acabará treinando o filho de seu tutor (Ben Foster), que se mostrará um rapaz impetuoso, mas com futuro no ramo dos assassinatos.

O meu problema não é nem com seu roteiro trivial, mas sim com a maneira como o diretor Simon West conduz a estória. No início, o filme começa com estilo, uma narração em off bacana, mostrando a organização do personagem principal e alguns aspectos psicológicos do mesmo. Após, mais ou menos, meia hora de projeção, o filme amontoa cenas de ação e uma trama arranjada às pressas de uma vítima importante para o assassino – enfim, o filme parece ser bastante atropelado de sua metade para o final.

Foster e Statham até seguram bem o filme, mas não adianta se o diretor e a edição da obra destroem qualquer aspecto positivo da atuação de ambos. Me pergunto: para que mostrar uma cena de luta em que mal podemos ver os movimentos do ator principal? Para que montar sequências que mais parecem videoclipes ruins passados no top 10 da MTV? Para que criar cenas de ação que destroem completamente o clima de realismo que o diretor tentou imprimir no início da obra? Pois é, também não entendo.


Em certos momentos, a obra lembra aquelas produções de ação lançadas diretamente para a televisão, cheias de maneirismos visuais e com uma edição toda picotada, em que mal podemos entender como se passa a cena de luta, tamanho o nervosismo da câmera...

Sabendo da existência de uma versão original deste filme, terei que correr atrás da mesma para assistí-la. Contudo, é praticamente certeza que o original dará um banho nesta versão anabolizada para o século XXI. Melhor sorte da próxima vez Statham!