domingo, 25 de abril de 2010

3 Críticas e 2 Trailers

É isso aí galera, abaixo estão três criticas de filmes que eu assisti durante a última semana. De quebra, disponibilizo aqui o trailer de dois filmes de terror bastante fortes, por isso eu já vou avisando o seguinte: quem não é chegado em filme de horror deve passar direto!

O primeiro trailer é de um filme que vem causando certa expectativa ao redor do mundo entre os fãs do gênero. Trata-se do filme The Human Centipede, que causou sensação em alguns festivais e agora será distribuído nos cinemas americanos. Só pela originalidade doentia da história, já merece meu crédito.

O segundo trailer é um pouco mais forte, de uma obra cujo nome é A serbian Movie ou Srpski. Acho que o melhor jeito de descrevê-lo é como um 8mm elevado à décima potência. Violência, nudez, sadismo e outras coisas para cinéfilos pirados como eu babarem. Infelizmente, no youtube o vídeo foi marcado para maiores de 18 anos. Por essa razão, disponibilizo aqui um vídeo no youtube bastante leve com a trilha sonora do filme e o link para o site Bloody Disgusting onde você poderá ver o trailer na íntegra: http://www.bloody-disgusting.com/news/19408




As Duas Faces da Lei (Righteous Kill, 2008)


Complicado falar sobre esse filme. Afinal de contas não é uma obra ruim. Mas também não é uma obra boa. Jon Avnet cometeu a heresia de juntar dois titãs do cinema (Al Pacino e Robert De Niro) e vários coadjuvantes de peso numa trama policial que qualifica-se, no máximo, como morna.

Dois policiais veteranos estão investigando um assassino em série. Outros dois jovens policiais (
John Leguizamo e Donnie Wahlberg) juntam-se na investigação e um deles começa a suspeitar que o assassino possa ser um policial – mais especificamente Turk (De Niro).

De fato, o filme reserva alguns diálogos interessantes e boas interpretações do elenco, que ainda inclui a maravilhosa
Carla Gugino, Brian Dennehy e Curtis Jackson (mais conhecido pelo nome artístico – 50 Cent). A direção de Avnet é ordinária, se pensarmos que ele dirigiu o ótimo drama Tomates Verdes Fritos em 1991.

As Duas Faces da Lei possui alguns momentos razoáveis e pode até agrada quem gosta de filmes policiais. Contudo, são justificadas todas as críticas negativas se nós pensarmos que se trata de um filme com Robert De Niro e Al Pacino como os atores principais. Esperemos que a próxima obra que junte esses dois grandes atores seja digna de suas estupendas carreiras.

Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007)


Na boa, eu não entendo o porquê de boa parte dos críticos de cinema terem detonado Motoqueiro Fantasma. Lembro-me de algumas opiniões escritas na época de seu lançamento. A mais equivocada delas saiu da revista Veja e era algo mais ou menos assim: “Nicolas Cage é substituído, sem muita diferença, por uma caveira flamejante”. Sinceramente, percebam que opinião equivocada: não é novidade, para quem é cinéfilo que Cage é um aficionado por histórias em quadrinhos. Seria no mínimo discrepante esperar uma atuação ruim, por parte dele, num papel que ele há anos perseguia. Isso sem mencionar que se Motoqueiro Fantasma é um filme bacana, pelo menos 80% disso deve-se a Nicolas Cage.

Outro ponto que muitos críticos salientaram é que Motoqueiro Fantasma era um filme muito infantil, que não era fiel às raízes originais. Contudo, apesar do filme não ser pesado e nem um pouco forte, não podemos desmerecer a obra. Afinal de contas, Motoqueiro Fantasma é um belo entretenimento para quem está procurando um filme divertido sem muitas novidades.

A história acompanha Johnny Blaze, que é enganado pelo diabo (
Peter Fonda) e acaba preso numa maldição – a de se transforma numa caveira flamejante que persegue quem o diabo manda. Ele vive tentando entender essa maldição até o momento em que ele finalmente acaba usando-a – quando o filho de Mephisto (Wes Bentley) vem para a Terra para se apoderar de um contrato feito entre uma cidade e Mephisto.

É verdade que o roteiro do filme peca pela falta de originalidade e alguns muitos clichês. Entretanto, isso não compromete o divertimento, ainda mais quando temos um elenco tão bacana como o próprio Cage, Peter Fonda e o sensacional
Sam Elliott. Muito bacana também são os efeitos especiais e sonoros do filme, bastante divertidos e convincentes.


Se um dos objetivos do cinema é criar entretenimento descompromissado que sirva, em certos casos, apenas como diversão, então Motoqueiro Fantasma cumpre seu papel perfeitamente. Se é isso que você procura, então você deve assistí-lo.

A Mulher Invisível (2009)



O que dizer dessa comédia nacional interpretada pelo requisitado Selton Mello? A Mulher Invisível tem um mote matador, porém o filme não é engraçado. Foram poucos os momentos em que eu ri durante a projeção. Por isso, se encararmos como, sei lá, uma comédia romântica ou até mesmo um drama, A Mulher Invisível pode até agradar. Contudo, se você espera muitas risadas, pode passar batido.

No entanto, A Mulher Invisível não é uma obra descartável. Nela, aliás, temos a prova de todo talento do cineasta Cláudio Torres, que escreveu um roteiro original e inteligente, que muitas vezes foge do clichê, nos surpreendendo ao não seguir alguns caminhos fáceis que o filme proporcionaria a um diretor menos habilidoso.

No fim, a única personagem genuinamente engraçada é a irmã da vizinha, interpretada por Fernanda Torres, que rouba todas as cenas que participa. E Selton Mello está engraçado? Só se você vê graça num sujeito que só desmaia e beija o ar. No fim das contas, fica a sensação que poderia ter sido muito melhor.

sábado, 17 de abril de 2010

Valente (The Brave One, 2007)


Adoramos histórias sobre vigilantes. Talvez, por vivermos numa sociedade onde a impunidade dos bandidos é uma realidade amarga, assistir um filme em que a justiça é feita, tal qual previa Hamurabi, nos agrada profundamente. É bom ver os bandidos serem mortos com toda a impiedade por alguém ordinário. Aliás, quanto mais ordinário for esse sujeito, mais interessante a história se torna e mais cativado nós ficamos pelo “herói” da fita.

Contudo, torcer para que os bandidos se ferrem e os justiceiros realizem seus atos com requintes de crueldade é de uma inocência atroz. Pois esses filmes de vingança nos propõem uma verdadeira reflexão sobre o ser humano. E acho que esse é o principal motivo de eu amar filmes sobre vigilantes: até que pontos nós podemos considerar um justiceiro como um cara do bem, o mocinho da história?

No caso de Valente, temos todos os elementos que já conhecemos numa história dessas: um crime bárbaro que irá mudar a vida da vítima, uma mudança total na rotina e comportamento dessa vítima, um policial que desconfia dessa pessoa e um final onde sempre há o acerto de contas com o bandido que mudou a vida dessa pessoa completamente.

Contudo, apesar desses elementos obrigatórios num filme sobre justiceiros estarem presentes em Valente, essa obra é diferenciada e inovadora em vários aspectos. Seguindo a linha de Harry Brown (crítica
aqui), Valente tem um protagonista bastante incomum nas fitas do gênero: trata-se de uma mulher, Erica Bain (Jodie Foster), que trabalha como apresentadora de um programa de rádio. Ela vive muito feliz com seu noivo, David (Naveen Andrews).
Contudo, esse romance é interrompido de maneira brutal quando um bando de meliantes ataca Erica e David, roubando o cachorro deles e espancando-os gratuitamente. David morre e Erica fica em coma por algumas semanas. Quando ela retorna a consciência, ela percebe que sua vida nunca mais será a mesma. Como ela mesma diz em certo ponto do filme: “There is no going back, to that other person, that other place. This thing, this stranger, she is all you are now”.

Temos aqui o primeiro grande trunfo da obra: o roteiro. O roteiro de Valente é maravilhoso e extremamente reflexivo. Não temos apenas uma pessoa que sai despachando os bandidos pelas ruas de uma grande cidade (que no filme é Nova York, palco de outro clássico do gênero – Desejo de Matar). Aqui, nos é oferecida uma visão do eu interior de Erica, de seu psicológico, que querendo ou não, foi alterado após o crime.

Após sair do hospital, Erica está verdadeiramente traumatizada com tudo que lhe ocorreu. Só para ela sair de casa é um verdadeiro sacrifício – e é nesse ponto da película que Neil Jordan impõe sua personalidade na obra. A câmera desloca-se na diagonal, explorando claustrofobia e, principalmente, o fato de estarmos diante de uma nova Erica Bain; aquela moça amorosa de antes foi enterrada junto com seu noivo.

Erica compra uma arma e balas. A princípio, ela não está querendo fazer justiça com as próprias mãos, entretanto ela tem que usar sua arma para matar um bandido numa conveniência. Ela não queria, porém precisava se defender.

Nesse ponto do filme, entra em cena a figura do policial Mercer (
Terence Howard) que irá conhecer Erica. De primeira, não há nada que fará com que o detetive desconfie da moça, porém aos poucos essa situação muda. Palavras e ações irão contribuir para que Mercer descubra que é aquela culta moça que está por trás dos crimes que dividem a opinião pública de Nova York.

Cabe destacar aqui as performances de Jodie Foster e Terence Howard. Ela está espetacular, personificando toda a ambigüidade que cerca sua personagem. Ele não fica atrás com seu surpreendente detetive que segue a justiça a todo custo, porém não acredita nela em muitos casos. Jodie recebeu uma indicação justíssima ao Globo de Ouro por seu desempenho.


Além da fotografia já comentada, o filme conta com uma belíssima trilha sonora composta por Dario Marianelli (que já tem uma estatueta do Oscar em sua casa pelo filme Desejo e Reparação). No entanto, o maior destaque técnico do filme cai sobre os ombros de
Neil Jordan (diretor de obras excepcionais como Entrevista com um Vampiro e Nó na Garganta) que realiza um trabalho excepcional, possivelmente um dos melhores de sua excelente carreira.

Valente levanta uma verdadeira reflexão sobre os limites do ser humano. Assim como ocorreu em Harry Brown, tenho a sensação que esse filme merece ser descoberto pelo grande público (aqui em Campo Grande, o filme nem chegou aos cinemas...). Valente é um filme muito bom.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

De Bico Calado (Keeping Mum, 2005)


Amigos esqueçam as paródias com prazo de validade (Os Espartalhões e genéricos) e os filmes sobre adolescentes idiotas (American Pie e companhia). O melhor da comédia no mundo vem do Reino Unido, atualmente. Um humor refinado, inteligente e sagaz são os ingredientes adicionados pelos britânicos nesses filmes que fazem você rir e pensar ao mesmo tempo.


Tomemos como exemplo a comédia De Bico Calado (titulo em português horrível) do diretor Niall Johnson. Temos um elenco maravilhoso e afiado, com um roteiro inteligente e criativo, que capricha no humor e no argumento da obra. Trata-se de um divertimento muito bacana, para qualquer um que procure uma trama engraçada que não sacrifica nossos neurônios durante a projeção.


A história inicia-se com uma mulher viajando de trem com um grande baú. Após vazar sangue desse baú, a polícia é chamada e a moça é presa. Durante o interrogatório, ela revela que no baú estão seu marido e a amante deles, retalhados. Ela vai para um hospício e, muitos anos depois, ela é finalmente libertada.


Com o nome de Grace Hawkins (Maggie Smith) ela vai trabalhar como governanta na casa do vigário Walter (Rowan Atkinsom) que é casado com Gloria (Kristin Scott Thomas). Walter é um homem que só pensa em seu trabalho na igreja e se esquece de sua família. Gloria sente-se rejeitada pelo marido e possui um amante, seu professor de golfe, Lance (Patrick Swayze). Isso sem mencionar seus filhos – o mais novo apanha na escola e a filha mais velha age como uma vadia. É nesse caos que Grace irá se meter e resolver os problemas da família por métodos nada ortodoxos.

É sensacional como, por trás de todo o humor, temos uma história essencialmente dramática. Afinal, a família está desmoronando e caminha para um final bastante ruim, se não fosse a intervenção de Grace, cujas razões são explicadas perto do final da película – uma das belas surpresas do roteiro.


Maggie Smith, ganhadora de 2 Oscar, dá um show, construindo uma velhinha simpática e amalucada. Kristin Scott Thomas e Patrick Swayze estão muito engraçados, porém o destaque da obra cai sobre os ombros de Rowan Atkinsom. Longe das micagens de seu célebre personagem, Mr. Bean, aqui ele entrega uma interpretação contida e fantástica. Ao mesmo tempo em que seu personagem é engraçado, há uma carga dramática impressionante em sua performance. Notamos isso pelos olhares, postura corporal e o próprio tom de voz que ele usa para construir o contido vigário.

Aquele clima de comédia com drama, presente no humor inglês em filmes como Quatro Casamentos e Um Funeral, Ou tudo ou Nada e Simplesmente Amor se faz presente em De Bico Calado, porém é bastante sutil o conflito sentimental nesta obra. Contudo, se analisarmos a obra com profundidade, percebemos a crítica do diretor aos casais que deixam seu relacionamento esmorecer. Para essa família entrar nos eixos novamente, é necessário que uma senhora assassina dê um jeito naqueles que atrapalham a vida deles. Trata-se de um humor negro feroz que funciona muitíssimo bem num filme com um argumento tão mórbido como esse. Realmente, muito bom.

Com um roteiro muito bem escrito, situações engraçadas, trama muito bem amarrada e um final surpreendente, De Bico Calado merece ser assistido. Ótimo filme.

Watchmen (2009)


Watchmen projetou-se como a minha grande aposta para o ano de 2009 e, após várias tentativas, eu finalmente o conferi, praticamente, um ano após seu lançamento.


Primeiramente, devo dizer que Watchmen foi uma grande decepção para mim. O filme não é, de maneira nenhuma, ruim. Pelo contrário, Watchmen é uma obra estupenda. Estupenda e grandiosa em vários aspectos. No entanto, o resultado fica muito aquém do que era esperado, especialmente quando estamos falando de um material tão comentado, elogiado e premiado como os quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons.


Não tenho interesse em fazer uma sinopse da história, pois não há como escrever sobre a trama de Watchmen em um parágrafo. E é toda essa complexidade que tornou Watchmen um grande desafio para Hollywood. Dizem que Terry Gillian abandonou o projeto por achar que um longa-metragem de 2 horas não faria jus ao material...


Eis que Zack Snyder, após realizar o regular Madrugada dos Mortos e o ótimo 300, agarrou o projeto e adaptou-o na marra, primando pela extrema fidelidade aos quadrinhos de Alan Moore.


E não são poucos os momentos em que a fidelidade de Snyder beira o inacreditável. Visualmente, Watchmen é sensacional e impecável. Cenários, figurinos, efeitos especiais, som e montagem absolutamente fantásticos, sem exceção. Um exemplo desse primor técnico é a seqüência de créditos iniciais: memorável e interessante.


Contudo, essa busca pela perfeição visual teve um custo alto para a adaptação de Snyder: o roteiro. Não estou me referindo, neste caso, à trama da história, que é muito boa por sinal. Refiro-me ao tratamento dado aos personagens que, em vários momentos, é extremamente raso e ineficiente.


Por exemplo: se observarmos o Coruja (Patrick Wilson) percebemos que não há muitas cenas em que podemos analisar, ou até mesmo nos interessar, o aspecto psicológico do personagem. Afora a cena em que ele transa com Espectral (Malin Akerman), não há nenhuma demonstração de sentimento dele que me convenceu.

Outra personagem que exemplifica esse fato é a própria Espectral. Veja por exemplo a cena em que ela descobre quem era seu pai por intermédio do Doutor Manhattan: a cena inteira soa tão forçada e canhestra que chega até incomodar.


No entanto, essa artificialidade não atinge todos os personagens da obra: o Comediante (Jeffrey Dean Morgan), Rorschach (Jackie Earle Haley), Ozymandias (Matthew Goode) e Doutor Manhattan (Billy Crudup) são extremamente complexos e suas ações nos fazem refletir muito mais sobre o que está passando na tela. Como ficar indiferente a um "herói" que dá um tiro numa mulher que está grávida de um filho seu? Ou a um herói cuja obsessão por salvar a humanidade ultrapassa as raias da frieza? Ou ainda um herói que mais parece um homicida? De fato, Watchmen decola nos momentos em que esses personagens aparecem no filme.


E os melhores momentos do filme são justamente aqueles em que esses personagens aparecem. Entre as melhores partes, destaco a cena em que mostra o passado do Doutor Manhattan (simplesmente fantástica), o clímax no gelo e TODAS as cenas em que o Comediante aparece.


Aliás, Watchmen é muito melhor em seus momentos de drama e conflitos do que nas cenas de ação. As lutas do filme são muito fraquinhas e a violência surge de uma maneira desproporcional, não condizendo com o clima sóbrio e realista da obra. Para que mostrar um par de braços sendo arrancado por uma serra circular elétrica? Em certos momentos, a violência cai bem (na cena em que Rorschach dá uma "cutelada" na cabeça de um sujeito), porém esses momentos são poucos.


No final da conta, temos um filme incrível e sensacional visualmente. Contudo, esses escorregões da produção contribuem decisivamente para um resultado que beira o regular. Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma obra interessante e bacana. Contudo, tinha potencial de sobra para se tornar um verdadeiro clássico, assim como a obra original. Se você não assistiu, faça-o, pois você estará diante de um dos filmes baseados em histórias em quadrinhos mais inteligentes e realistas que o cinema já produziu.