segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Skinheads - A Força Branca (Romper Stomper, 1992)

Tintas surpreendentes colorem esta fita australiana, que aparenta falar apenas sobre neonazistas em Melbourne. Entretanto, a obra é um denso retrato de um triângulo amoroso entre dois jovens skinheads e uma moça com a vida muito problemática. Mais preciso ainda seria dizer que a obra é, na realidade, o retrato de uma juventude descaminhada e desvairada, praticante de atos desprezíveis que, apesar de sua falta de senso moral, ainda são humanos.

Trata-se de uma abordagem muito ousada do diretor Geoffrey Wright, que prende a nossa atenção até o aterrador epílogo da obra. Afinal, não conheço qualquer outro filme que tenha retratado os neonazistas da maneira como foi feita aqui. Maniqueísmo passa longe de seus personagens. Até mesmo Hando, o líder da gangue interpretado com muita força por Russell Crowe, é um ser humano capaz de ser acuado e aterrorizado pela polícia. Seu braço direito, Davey (interpretado por Daniel Pollock, que cometeu suicídio após término das filmagens) é um sujeito legal, apesar de surrar vietnamitas pelas ruas e sair quebrando lojas. E, para fechar o triângulo, temos a jovem Gabe (Jacqueline McKenzie) que tem uma vida de merda e encontra um abrigo na gangue de Hando.

Skinheads foi um filme que causou muita polêmica depois de seu lançamento. O diretor e roteirista Wright trocou cartas com um líder de uma gangue neonazista, que cumpria a sentença de prisão perpétua, sendo Hando a encarnação deste criminoso. Vários dos personagens da obra, incluindo Davey e Gabe são baseados em pessoas reais, que conviveram com o "Hando real". Wright ainda conviveu com alguns skinheads que chegaram a participar da produção do filme, mas se retiraram durante o processo de filmagem por não gostarem do rumo que a estória tomava.

Interessante observar a reação que este filme causou em certas partes do mundo, especialmente na Austrália, onde foi realizado. Na época, um juiz australiano, durante o julgamento de um homem por assalto, disse ao acusado que ele deveria assistir ao filme e escrever uma dissertação de 5 páginas sobre o mesmo!

Entretanto, muitos não gostaram da obra, condenando sua violência, linguagem forte e o próprio tema. No Reino Unido, a Liga Anti-Nazista tentou barrar o lançamento da obra, devido a visão de jovens neonazistas humanos imposta por Wright. Acreditava-se que o fato do filme não condenar a violência nazista poderia dar confiança aos nazistas britânicos. A obra chegou a ser recusada num cinema em Glasgow. Contudo, o filme não endossa a violência.


Tanta polêmica é claro atraiu as atenções ao diretor e o astro da fita, Crowe. Numa entrevista, Wright afirmava que "estava feliz por desagradar tantas pessoas". Pasmem que não só a Liga Anti-Nazista protestou contra a obra, mas os próprios neonazistas protestaram contra a obra.

E filmes polêmicos como Skinheads são essenciais para se assistir. Por quê? Porque são obras que nos impedem de ficarmos em cima do muro, sem formarmos uma opinião. Trata-se de um filme aterrorizante e ousado em seus princípios, que merece ser conhecido. Afinal, até os monstros podem ser humanos? Neste filme, caros leitores, a resposta é afirmativa.

2 comentários:

  1. O último grande filme que vi sobre o assunto (skinheads) foi A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA. Tenho muita curiosidade por este, foi um do primeiros filmes do Crowe né?

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  2. sim foi um de seus primeiros...

    Mas teve um filme sobre skinheads chamado This is England, de 2006. Filmaço - em breve eu faço um comentário...

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