quinta-feira, 21 de julho de 2016

Cannes e a seleção de filmes

"Pois uma seleção não é um passeio salutar. Os filmes chegam, cada vez mais numerosos, cada vez mais diversos. É preciso aceitar visioná-los em um tempo cada vez mais curto. Transformar em atividade profissional o que deve continuar a ser um prazer e uma paixão. Não se pode conceder o tempo para degustar uma obra no ritmo que esta merece. É preciso dar uma reposta. Justificar-se, tranquilizando os autores decepcionados, resistir a produtores que nunca desistem. Ano sim, ano não, os grandes cineastas não filmaram. Angústia. Procura-se desesperadamente uma substituição. Já se ouvem os comentário: "Veja! Cannes não é mais Cannes". O ano seguinte, apreensão, a abundância de nomes célebres vai limitar o espaço para desconhecidos. Imagina-se o discurso: "Estava fácil demais!". Sem dúvida, vossa senhoria, mas um Fellini menor sempre será preferível a um esforçado que se superou. Além disso, se são sempre os mesmos aceitos, é porque fazem realmente os melhores filmes."

Trecho do livro Cidadão Cannes, de Gilles Jacob, publicado pela Companhia das Letras (2010).

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