domingo, 21 de março de 2010

O Monstro do Circo (The Unknown, 1927)


De todos os aspectos marcantes presentes em O Monstro do Circo, a performance de Lon Chaney é a que mais me impressiona. Eu ainda não tive a oportunidade de ver uma atuação tão impressionante, visceral e comovente como a de Lon Chaney, em qualquer outro filme de terror. Trata-se, para mim, do melhor vilão que eu já vi numa produção de terror. Outros grandes atores já encarnaram personagens memoráveis e assustadores, porém nenhum com toda a potência e carga dramática que Alonzo, o atirador de facas sem os membros superiores interpretado por Chaney, carrega em sua faceta. Realmente, você fica sem palavras depois de ver uma obra tão impactante e excepcional como O Monstro do Circo de 1927.


A história do filme poderia ser confundida com, quem sabe, uma tragédia de Shakespeare, tamanha sua força emotiva: Alonso é um artista de circo que não possui os braços. Ele é apaixonado por Nanon (Joan Crawford), filha do dono do circo. Nanon possui uma fobia bastante incomum: ela tem medo das mãos dos homens, gerando uma ojeriza, por parte dela, sobre o homem forte do circo, Malabar (Norman Kerry), que é apaixonado por ela. Desta forma, Nanon confia apenas em Alonso.


O detalhe é que Alonso guarda um terrível segredo de sua amada e de todos que o rodeiam, compartilhado apenas pelo seu fiel ajudante Cojo (John George). É esse segredo que causará toda a complicação da trama, magistralmente escrita por Tod Browning e Waldemar Young.


O Monstro do Circo é tão bom por uma verdadeira conjunção de fatores: um elenco excelente, um ótimo argumento e um diretor no auge de sua criatividade e em sua melhor fase. Aliás, Tod Browning é um diretor que merece ter sua filmografia revisitada urgentemente tanto pela crítica quanto pelo público.



Devo dedicar um capítulo a mais para Lon Chaney. Tratava-se de um ator conhecido pelos papeis difíceis que pegava - o "Homem de Mil Rostos". Era o ator preferido de Browning e, juntos, realizaram várias obras. Em O Monstro do Circo, Chaney supera-se sob todos os aspectos, numa atuação soberba, magnífica. Até hoje, o ator Burt Lancaster considera a interpretação de Chaney como a mais convincente de todo o cinema. E não é para menos: Chaney utiliza expressões faciais para transmitir os sentimentos do personagem. No fim das contas, só uma palavra resta para caracterizar o desempenho de Lon Chaney: perfeito.


Um dos fatores mais interessantes em O Monstro do Circo é a proposta de análise da natureza humana. Alonso é, apesar de tudo, um homem loucamente apaixonado. Seus questionáveis métodos para conquistar Nanon são, no mínimo, compreensíveis. Eis aí, uma das maiores forças da obra: apesar de todo o teor fantástico da história, no fundo há muita realidade na trama. Em alguns momentos, parecia que eu estava lendo uma tragédia grega, como a história de Édipo – temos elementos fantasiosos para contar uma trágica história que, debaixo de todas as camadas, pode acontecer com qualquer um. Nesse sentido, eu até arrisco dizer que O Monstro do Circo encaixa-se, com suas devidas restrições, como uma obra extremamente romântica, pois a história desenrola-se dessa maneira devido ao triângulo amoroso existente entre Alonso, Nanon e Malabar.


O Monstro do Circo é, enfim, uma verdadeira obra-prima, que merece ser assistida por todas as gerações de amantes de cinema. Uma verdadeira lição de cinema sob todos os aspectos: direção, interpretação e roteiro impecáveis, além de um clímax tenso e inesquecível. O Monstro do Circo é tudo isso e muito mais...

2 comentários:

  1. Oi, Luca. Eu conheço pouco do cinema mudo, mas sei certamente que àquela altura do campeonato, em que foi feito esse filme cpomentado por vc (1927), o domínio do knowhow cinematográfico era pleno e perfeito - então logo a seguir veio o som e desmontou de uma outra pra outra tudo que tinha sido construido o longo de duas décadas e meia. Enfim, o cinema teve que ser reinventado, né? Duro no início, mas necessario para a evolução da Arte. Esse foi o ano (ainda 1927) dourado de pérolas como Aurora e A general, obras-primas inatactas até hoje. Vou atrás desse resenhado aqui por vc. Continue desvendando esses filme pra gente, rs. Abraços.

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  2. Hey Demofilo!!!

    Prinmeiramente, valeu pelo seu comentário aqui no meu blog!
    Eu ouvi falar dessa pérola aqui na falecida revista Cine Monstro, numa ótima resenha. Realmente, esses filmes mais antigos precisam ser redescobertos por nós, amantes do cinema, pois muitas vezes são obras realmente bacanas que, por alguma razão inexplicável, caíram no esquecimento. Sem comentar o cinema de Tod Browning, um diretor que deixou uma marca única sobre o cinema de terror.

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