segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Desventuras de Um Cinéfilo - Impressões da Temporada do Oscar 2023 #01

É tão curioso perceber o reflexo das flutuações do meu humor conforme minha motivação em manter viva minha paixão por cinema. Esse blog é, de um ponto de vista muito pessoal, o espelho (nem sempre fidedigno) desses altos e baixos, frequentes na vida de qualquer um - acredito eu. Meu momento atual é de estabilidade, lutando para não entrar numa descendente. Fim de um ciclo que se aproxima e início de algo que eu ainda não sei bem o que é - no momento me sinto como num trem rumando para uma estação desconhecida e isso não é confortável para este "velho" capricorniano.

Não deixa de ser interessante, apesar disso, meu recente ânimo em acompanhar com um pouco mais de atenção a temporada do Oscar. Muitos parênteses, porém, precisarão ser pontuados por aqui: essa animação envolve a vontade de conhecer e assistir uma parcela dos indicados desta edição, bem como acompanhar notícias dos bastidores das campanhas e de outras premiações ao longo deste início de ano. Infelizmente, o ânimo envolvendo assistir a premiação em si anda meio arrefecido, especialmente com o show de horrores das últimas premiações - a dolorosa edição em que o péssimo Moonlight foi laureado no lugar do inesquecível La La Land (e toda a gafe que se seguiu), a edição ocorrida durante a pandemia (horrorosa, como muitos dos seus candidatos) e o Will Smith no ano passado - uma sucessão de eventos que mais me repeliram do que qualquer outra coisa.

Mesmo assim, a edição atual é uma das que mais me excitam em tempos recentes. Pessoalmente, isso tem relação com alguns fatores: a minha necessidade de precisar deixar a chama do amor pelo cinema acesa dentro de mim, o prazer em acompanhar os vídeos do canal Dalegnore Críticas no youtube (ainda será discorrido neste blog minhas impressões de seu conteúdo, mas não é o foco desta postagem) e a própria seleção de filmes na classe deste ano.

Talvez, a última edição do Oscar que correspondeu minha excitação foi a de 2016, com a premiação do filmaço Spotlight. Foi um ano, extraordinário, aliás: The Martian, The Revenant, Mad Max Fury Road, Creed, The Big Short... Naquela temporada, eu fiz uma sessão inesquecível no cinema de Spotlight e The Revenant, com minha querida irmã. Quando voltamos das sessões, sentamos na sala de casa, com apenas uma aconchegante luz de um abajur alto e a televisão ligada passando desfiles de escolas de samba... Boas memórias.

Assim sendo, a edição de 2023 traz alguns ótimos nomes para acompanhar e outros que, a princípio, tenderei a ignorar. Alguns desses filmes, quem sabe, terão suas resenhas publicadas por aqui. Venho ensaiando uma resenha de Os Fableman - já adianto que gostei do filme.

Talvez, um dos triunfos dessa edição atual é que existem alguns filmes dela que eu genuinamente já gostaria de assistir, muito antes de serem indicados: The Banshees of Inisherin (o mesmo diretor e a dupla de atores do filme In Bruges são motivos mais que suficientes para eu querer ver), The Whale (eu estou investido nessa "ressurreição" da carreira do Brendan Fraser) e Argentina,1985 foram alguns que já estavam no meu radar.

Tão curioso quanto os filmes que eu já queria assistir foram os filmes que essa Temporada (e resenhas positivas) destacaram e entraram no radar: Tár (minha irmã disse que eu PRECISO ver este filme - estou dependendo da boa vontade do Cinemark de lançá-lo na telona), The Quiet Girl (um candidato da Irlanda), Pinóquio do Guillermo Del Toro, RRR, Elvis (apesar de dirigido por um diretor cujo estilo não me agrada, ainda assim fiquei curioso) e Living (Bill Nighy + Kazuo Ishiguro = com certeza quero assistir).

É uma temporada com certeza interessante. Apesar de parecer solitário, foi incrível acompanhar a transmissão dos indicados enquanto eu almoçava sozinho numa tradicional churrascaria daqui da cidade. Enquanto comemorava as indicações de Top Gun Maverick, o garçom mandava a ver naquele pedaço suculento de Angus. Só essa memória é o suficiente para simbolizar que este ano será melhor que os anteriores. Sigamos.

domingo, 29 de janeiro de 2023

Leitura: Vampiros da Meia-Noite (Editora Skript; Quadriculando - 2022)

Nos idos de 2003, a melhor revista de cinema lançada no Brasil, a Cine Monstro, fez um especial sobre o cineasta Tod Browning e, ao final da primeira parte desse dossiê sobre o cineasta, a publicação me apresentava ao filme O Vampiro da Meia-noite - London After Midnight de 1927:

"... hoje é considerado um dos filmes perdidos mais procurados de todos os tempos."

Além de atestar a incrível qualidade dessa magazine, a frase acima se mantém como uma verdade até os dias atuais: O Vampiro da Meia-noite, maior sucesso comercial da parceira Lon Chaney e Browning permanece perdido até o dia de hoje, suscitando uma grande popularidade ao redor dessa obra, rendendo diversos vídeos no youtube, livros, montagens de fãs, uma montagem do TCM (falaremos dela um pouquinho mais pra frente) e uma história em quadrinhos recém-publicada no Brasil - Os Vampiros da Meia-noite dos chilenos Gonzalo Oyanedel e Enrique Alcatena.

A graphic novel funciona, basicamente, como um storyboard baseado no roteiro e nas imagens do filme - um material de primeira para fãs de terror e cinema clássico. O traço de Alcatena é bonito e bastante familiar, principalmente por quem já estiver acostumado com HQs europeias (me lembrou um pouco a dupla italiana Giancarlo Berardi e Giorgio Trevisan).

O final da hq traz um ensaio sobre a obra original revelando alguns interessantes detalhes do filme, incluindo a iniciativa do canal TCM de contratar o arquivista Rick Schmidlin para produzir um fotofilme de pouco mais de 40 minutos, baseando-se nas mais de 200 imagens que temos do filme e a versão final de seu roteiro. E essa versão está disponível online - recomendo muito que você assista.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Pôster: Inside (2023)


Os anos vão passando e o grande Willem Dafoe vem mantendo uma excelência quanto a escolha de projetos e atuações incríveis. Não expressei aqui no blog minha paixão pelo seu retrato de Van Gogh no filme No Portal da Eternidade, mas devo dizer que depois daquele filme eu sou um entusiasta do Dafoe encabeçando filmes e levando-os sozinho em suas competente costas. O ótimo trailer deste aqui aponta para uma daquelas histórias de isolamento já clássicas nos filmes de suspense/horror. E o pôster com o ursinho do Festival de Berlim só deixa tudo ainda mais interessante. Seria legal ver esse aqui no cinema.

Trailer: Beau Is Afraid (2023)

Não cheguei a publicar por aqui minhas impressões sobre Midssomar, último filme do diretor Ari Aster (Hereditário ainda não assisti), mas devo dizer que eu não gostei muito do filme - muito inchado, muito longo e com poucas boas ideias (mas ótimas referências, no geral). Ainda assim, respeito o fato deste diretor estar criando obras originais e que definitivamente não deixam sua audiência em cima do muro. O trailer abaixo, para mim, é absolutamente indecifrável e, só isso, já é um fator elogioso. A presença de Nathan Lane também me surpreendeu muito no trailer. Enfim, intrigante como todo trailer deveria ser. Quem sabe não rolará crítica por aqui...



sábado, 7 de janeiro de 2023

Little Nicky - Um Diabo Diferente (Little Nicky, 2000)

 

Eu me lembro com entusiasmo da época em que assisti este filme - um período em que as locadoras ainda estavam muito vivas e uma porção de filmes legais ainda passavam na televisão e este aqui eu assisti provavelmente num SBT da vida e tinha algumas memórias do filme - principalmente a punição do Hitler...

 Em todo caso, por muitos anos eu procurei LITTLE NICKY em dvd para adicionar a minha videoteca, mas sempre foi uma tarefa bem complicada. Lançado aqui no Brasil pela Playarte, os filmes dessa distribuidora quase não chegavam nas Lojas Americanas da minha cidade, tornando a aquisição uma vontade distante. Entretanto, qual não foi minha surpresa quando um amigo de um grupo de vendas de filmes conseguiu uma cópia e eu fui o primeiro a agarrá-la, num fortuito momento de consulta do whatsapp durante meu trabalho. Uma puta sorte!

E rever essa pérola só comprovou o que minha memória sussurrava: este é um dos filmes mais legais do Adam Sandler! Lendo um texto publicado no Collider ano passado, não deixa de ser interessante parte da crítica revisitar a carreira do Sandler e apresentar um pouquinho de mais boa vontade ao redor do seu trabalho. 

 

 

A trama é simples porém muito inventiva: Nicky (Sandler) é um dos três filhos do Diabo (Harvey Keitel, no ponto), o mais improvável de herdar seu trono por sua natureza dócil e meio débil (típico personagem que o Sandler interpreta). O pai parece gostar mais desse filho mané, o que desperta a inveja de seus dois outros irmãos completamente perversos (Tom Listen Jr. e o sempre incrível Rhys Ifans) que tramam para tomar o trono do pai e se livrar de seu irmão cretino.

Desde o cabelo lambido do personagem principal, até a trilha sonora lotada de "nu-metal" e as próprias piadas do filme - tudo lembra demais a época que esse filme foi realizado. Na época, porém, foi um baita fracasso de bilheteria, faturando apenas 58,3 milhões de dólares em comparação com os mais de 80 milhões de orçamento e a recepção bastante negativa da crítica em geral. 

É curioso porque assistindo o excelente "making-of" que acompanha o dvd, é possível perceber como a produção desse filme foi bastante caprichada, condizente com o inventivo roteiro. A equipe da produção trabalhou na construção de cenários criativos, além de vários efeitos visuais que na minha opinião ainda funcionam muito bem. Há um ótimo trabalho de maquiagem e figurino no filme que não passam despercebidos, também.

Uma das coisas mais legais dos filmes de Sandler (confirmada também no ótimo documentário no dvd) é que Sandler se cerca das figurinhas carimbadas com quem gosta de trabalhar, o que me faz acreditar que deve ser divertido participar dessas filmagens: Rob Schneider, Jon Lovitz, Kevin Nealon, Allen Covert e muitas outras caras conhecidas, alguns deles com papeis mais proeminentes do que rotineiramente. Isso sem falar nas diversas participações especiais: Dana Carvey, Quentin Tarantino (divertidíssimo, por sinal), Carl Weathers, Henry Winkler, Regis Philbin, Dan Marino, o time Harlem Globetrotters e até Ozzy Osbourne, numa participação impagável.

Apesar de ser um filme meio esquecido atualmente (será que algum dia teremos blu-ray dele?), LITTLE NICKY rendeu um jogo de game boy colour e até uma linha de action figures! A versão nacional do dvd foi lançado pela Playarte enquanto a americana foi lançada naquele formato snapcase, com uma trilha de comentários que a versão nacional não dispõe (mas em compensação tem a dublagem original do filme). 

Acredito que é a comédia mais criativa, visualmente e em termos de story building, da carreira do Adam Sandler. Fiquei muito satisfeito em adicioná-la a minha coleção e fica a sugestão para quem quiser se divertir com um tipo de comédia original, mais recheada de besteirol, cada vez mais rara no mercado. Nem que seja para ver o Hitler ser punido com um abacaxi - deixando sua imaginação te levar para onde quer que seja.

domingo, 1 de janeiro de 2023

Expectativas para 2023 no mundo do cinema

Acredito que 2023 tem tudo para ser um ano estupendo em todos os sentidos! O que acontece é que eu sou um sujeito extremamente otimista e sempre disposto a esperar algo de melhor do que o destino possa me trazer. E também acredito que boas energias costumam atrair coisas boas - dessa maneira sinto que é um bom momento para derramar algumas expectativas aqui no blog:

Como não se lembrar daquelas edições de Janeiro da Revista SET em que eles lançavam um Preview do ano seguinte, com todas as informações disponíveis sobre os filmes do ano vindouro, tornando nossa vida de cinéfilo bem mais fácil. Aliás, sinto grande falta das revistas de cinema (em algum canto da internet eu li que tinha uns boatos sobre a volta da revista, mas não consegui confirmar nada). Fato é que agora temos de garimpar um pouquinho pela internet para achar informações fidedignas de próximos lançamentos.

Considerando que meu filme favorito da vida é Rocky, um Lutador, é óbvio que eu aguardo com muita expectativa o terceiro filme da série CREED, com Michael B. Jordan encarnando o filho do eterno Apollo. Eu gostei do trailer, apesar de ter sentido que a história caminha para uma trama meio óbvia - no caso parece ser uma mistura do Rocky III e do V. É claro que isso pode ser muito bom, especialmente se mantiverem a excelente execução dos dois anteriores. Mas será que a saga vai ter fôlego sem nosso querido Sly? Veremos muito em breve.

Por falar em Stallone, neste ano sairá OS MERCENÁRIOS 4 - o último da série com o garanhão italiano, aparentemente. As lições do fracasso do último filme parece que foram aprendidas: filme mais violento, com censura maior direcionada ao público alvo, de fato; elenco mais enxuto, sem aquele excessos de participações e gracinhas. Torço muito para termos um filme de ação bem à moda antiga, com muitas explosões, pancadaria, truculência, piadinhas de mal gosto e tudo aquilo que um apaixonado pelo cinema de ação mais brucutu gosta de assistir. 

Apesar de cada vez mais sem paciência para os filmes de super herói, que parecem estar piorando progressivamente, duas continuações estão em minha alça de mira: SHAZAM! FURY OF THE GODS, sequência da divertidíssima primeira aventura (mas que tudo indica, será o último filme do Capitão Marvel, porque a DC Comics está uma verdadeira zona!) e GUARDIÕES DA GALÁXIA VOLUME III, cujos os dois primeiros filmes são, na minha modesta opinião, excelentes, quase sempre me despertando a vontade de largar tudo e entrar na faculdade de cinema pra fazer um filme como esse. 

Vamos voltar a comentar as estreias com base nos atores cujas carreiras eu acompanho: Jason Statham, carinhosamente chamado por aqui de "O Brucutu Inglês", terá além dos já citado Mercenários, a continuação do filme Megatubarão (cujo primeiro filme ainda não assisti) e o adiado OPERATION FORTUNE, do Guy Ritchie, diretor que quase sempre acerta. Por enquanto, nenhum daqueles projetinhos menores em que ele costuma atuar (é exagero pedir por um novo Carga Explosiva?).


Este blog sempre terá espaço para Nicolas Cage e 2023 teremos algumas pérolas: REINFIELD é a volta de Cage como um vampiro, neste caso o senhor das trevas himself - Drácula! Além disso, já temos um trailer bem cativante de um faroeste chamado THE OLD WAY que certamente estará na minha órbita de interesse. Além disso teremos um tal de THE RETIREMENT PLAN, que reúne no elenco Ron Perlman e Jackie Earle Haley - o suficiente para me deixar intrigado. E tem a adaptação do livro THE BUTCHER'S CROSSING, do cultuado autor John Williams.

Alguns trailers me chamaram bastante atenção e, curiosamente, foram de duas adaptações de jogos - um videogame e um rpg: DUNGEONS AND DRAGONS - HONRA ENTRE LADRÕES e SUPER MARIO BROS - O FILME prometem, ao menos com seu material promocional, diversão de primeira. Se considerarmos os lançamentos pregressos desses filmes no mundo do cinema, acho seguro apostar que teremos, ao menos, filmes melhores que seus originais.E tem uma adaptação francesa de OS TRÊS MOSQUETEIROS com a Eva Green que parece ser muito boa.

E pensando nos diretores: filmes novos do Scorsese, Fincher, Shyamalan, Polanski, Ridley Scott, Wes Anderson, Michael Mann, Isaac Florentine... 

E alguns projetos que ainda não divulgaram qualquer material: Russel Crowe interpreta o exorcista Gabrielle Amorth em THE POPE'S EXORCIST; a famosa história do Stephen King, SALEM'S LOT ganhará mais uma adaptação; o videogame GRAN TURISMO até que pode render algo de interessante olhando seu elenco e direção; e para fechar, no terreno do super boato: uma continuação do clássico do Steven Seagal - NICO, ACIMA DA LEI - eu quero acreditar que o velho Seagal ainda consegue fazer um filmaço...

Enfim, é uma cacetada de motivos para encarar 2023 com alguma expectativa positiva, não acham? E eu tenho quase certeza que amanhã já vou descobrir algum outro projeto que eu não abordei por aqui, mas paciência.

Balanço 2022: Os filmes, os livros e os discos

 Mais um ano que se finda e aqui seguem resenhas curtinhas para contabilizar meus favoritos do ano:

Melhores Filmes de 2022 (dos poucos que assisti):


- Top Gun: Maverick

Muito já foi dito sobre este filme e eu atesto tudo de positivo que já foi falado: é O filme do ano! Um blockbuster daqueles como há muito não se lançava nas salas de cinema, com um roteiro simples (porém matador), excelentes cenas de ação, genuína emoção e uma participação inesquecível do Val Kilmer. Consegue ser melhor que o original. Eu só peço à Deus que pelo menos um filme como esse seja lançado por ano - já seria o suficiente para conter o mar de mediocridade dos lançamentos atuais.

- Batman

Tanta, mas tanta coisa poderia ter dado errado com este filme e, ainda assim, foi o melhor lançamento baseado em histórias em quadrinhos do ano. Simplesmente adoro esse roteiro e adoro as decisões criativas que esse filme tomou, conseguindo se encaixar no universo criado pelo filme do Coringa. A DC Comics está uma bagunça e eu não faço a menor ideia dos próximos passos da Warner, mas que este filme faz jus ao morcegão - isso faz!

- Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Presença garantida na atual temporada de premiações e eu me alinho com a turma que aprovou este filme. É original, inventivo, tem performances ótimas e quanto mais eu penso nesse filme, mais eu gosto dele - apesar do final escorregar um pouco no melodrama. Ainda assim, uma experiência única e vou torcer para a senhora Michelle Yeoh levar o Oscar de melhor atriz.

- Nada De Novo No Front

Sendo um dos meus filmes favoritos, logicamente eu esperava bastante desta adaptação que realmente não me decepcionou nadinha. É um filmaço brutal de guerra que passa rapidinho apesar de sua longa duração. Não dá vontade de ver nenhum filme de guerra depois dele, pelas terríveis imagens registradas, mas consegue te dar aquele soco no estômago que o livro me fez, quando eu o li aos 15 anos de idade.

- O Menu

Pra mim, esse é o filme de terror do ano. Óbvio que não é o terrorzão tradicional, mas um suspense tranca respiração de primeira - na sessão de cinema que eu conferi, os eventuais comentaristas babacas que sempre empesteiam as sessões calaram a boca rapidinho conforme a trama se desenrolava. Queria muito que o Ralph Fiennes disputasse na categoria de ator coadjuvante, mas acho difícil. Um filme do David Fincher sem ter sido dirigido por ele.

Melhores Filmes Assistidos em 2022 pela primeira vez:


- O Sol Da Meia-Noite (White Nights, 1985)

Filme maravilhoso dirigido por Taylor Hackford, numa típica trama com cenário de fundo a Guerra Fria. Belas performances da dupla protagonistas, em especial o já falecido Gregory Hines que compôs um personagem BEM complexo. Filmaço que faz você sentir naquelas salas com tablados, numa tarde de semana, com o sol esvaecendo pela janela, refletindo o chão e as partículas de poeira... Viajei bastante, mas amei este filme

- De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999)

Inesquecível. Stanley Kubrick é foda. Fantasia erótica com generosas pitadas de horror sobre o quão fundo você avança nas esferas de poder e  vai encontrando todo tipo de perversidade e impunidade. Mesmo que você consiga não encarar este filme como uma denúncia, as cenas que o Kubrick talhou dificilmente sairão da minha cabeça. Cá entre nós, uma obra-prima.

- Ensina-me a Viver (Harold And Maude, 1971)

Simplesmente inacreditável observar como Hollywood perdeu a capacidade de criar filmes como esse, uma comédia de humor negro absurdamente sensível e muito cômica. As performances são extraordinárias e o final deste filme é um daqueles grandes epílogos da história do cinema. Este eu preciso na minha coleção.

 - Na Mira da Morte (Targets, 1968)

Assistido coincidentemente um dia antes do falecimento do Peter Bogdanovich, em seu primeiro crédito como diretor - graças ao deus da produção do cinema Roger Corman - temos um filme chocante sobre um homem surtado com acesso a armas e um astro decadente da antiga Hollywood - performance incrível de Boris Karloff. Um filmaço de suspense com uma mensagem interessante e um subtexto finíssimo.

- Cortina de Fumaça (Smoke, 1995)

Nada como aqueles primeiros filmes da Miramax, que tem um jeitão tão único, difíceis de se explicar em palavras. Elenco de primeira, incluindo o saudoso William Hurt, aqui temos o universo da Nova York de Paul Auster, que deixa até mesmo um brasileiro do centro-oeste próximo daquela realidade. Filmão que merece uma edição mais caprichada para minha filmoteca.

Melhores Discos de 2022: 

-  Fontaines DC - Skinty Fia

Altíssima rotação e o cd do ano. Os caras fizeram o melhor álbum de sua carreira, com performances vocais potentes, arranjos incríveis e a sensação de estar andando pelas ruas de Dublin durante os dias mais cinzentos do ano. É o tipo de disco que me faz querer voar para longe daqui e, quem sabe, este não foi o meu passaporte?

- Suede - Autofiction

Não tem nada como uma banda veterana mostrando todo o seu poder de ação. Suede, veteraníssimos do britrock dos anos 90, soltaram o disco mais pessoal, sentimental e dilacerante do ano. As performances ao vivo nos deram mostra de como os caras ainda estão nas pontas dos cascos. 

- White Lies - As I Try Not To Fall Apart

Detratores diriam que o White Lies não resistiria por muito tempo, entretanto a cada novo trabalho os ingleses demonstram a evolução e o quão pouco eles ligam para a imprensa "especializada". Do ponto de vista criativo, o White Lies é uma das bandas mais incríveis de se acompanhar. 

- Red Hot Chilli Peppers - Return Of The Dream Canteen

Curioso caso: a melhor música que os Chilli Peppers lançaram neste ano está em seu cd anterior (Black Summer), mas este disco leva o caneco pela mistura de uma sonoridade mais próxima do início da carreira dos caras com muita, mas muita, experimentação. É o disco para embalar os dias vindouros de sol.

- Interpol - The Otherside Of Make-Believe

Tenho a impressão que só os fãs mais "hardcores" do Interpol gostaram deste disco - e eu me enquadro nesta categoria! Interpol continua despejando sua melancolia e suas letras estranhas com aquela típica base sonora do post punk deste século. Baita disco para se ouvir voltando do trabalho em dias de chuva.

Melhores Livros Lidos em 2022:


- Uma Viagem pelos países que não existem (Editora Pulp, 2018)

Só pelo conceito do livro - um relato de visita a locais do mundo não reconhecidos como nações independentes - já foi o suficiente para eu procurar essa obra por um longo tempo. Óbvio que depois de finalmente a ter adquirido, hoje é facinho de encontrá-la à venda por aí. Livro rápido e gostoso de ler.

- Coleção Reminiscência - Volumes V, VI, VII e VIII (Editorial Corvo, 2022)

Uma roubadinha de leve, mas não tem como eu destacar um livro só dessa coleção de fôlego onde o mestre Rubens Francisco Lucchetti nos presenteia com o seu universo de referências e memórias, tal como uma tarde tomando café em sua companhia. Maravilhosos e gostaria de muitos outros volumes no futuro.

- O Clube de Boxe de Berlim (Editora Rocco, 2003)

Livro juvenil prontinho para uma adaptação em Hollywood. Não tem absolutamente nada de novo, mas é uma leitura agradável e fluida. Não morro de amores pelo final que é um tantinho arrastado, mas certamente é uma ótima história.

- Os Salgueiros (Editora Empíreo, 2019)

Clássico do terror do autor Algernon Blackwood, é uma novela enervante de terror + natureza (esqueçam a denominação hypada de folk-horror, por favor) que consegue te deixar sem ar em muitos momentos. Enigmática, sufocante e uma bela porta de entrada para o universo deste autor. Lerei alguma outra coisa dele, neste ano - espero.

- A Vida dos Outros e A Minha (Cultura e Barbárie, 2021)

Que beleza de livro! A autora Claudia Cavalcanti relata sobre o período em que viveu na Alemanha Oriental, tendo solicitado os arquivos que a Stasi (a polícia secreta da Alemanha comunista) produziu sobre ela. Parece muito com um envolvente filme europeu de espionagem dos anos 70 e 80. Espetacular