domingo, 30 de outubro de 2022

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (My Best Friend's Exorcism, 2022)

 


Creio que falar sobre esse filme desperta em mim duas linhas de pensamento:

A primeira delas é de que se trata de um filminho razoavelmente divertindo, nadando nessa maré de revivalismo dos anos 80, principalmente de alguns aspectos de sua estética. Há uma agradável sensação de se estar diante de um daqueles descompromissados exemplares de comédia adolescente/terror, um tanto quanto esquecível de uma maneira geral. Os atores foram bem escolhidos, a produção visual é bacana e o filme é curto e direto ao ponto, além da trama se fechar em um único longa-metragem (porque, francamente, a ideia de tudo se tornar uma franquia - ou "universo expandido", um termo pra lá de "sojado" e imbecil desta geração - me cansa profundamente). Assim, O EXORCISMO DA MINHA MELHOR AMIGA é um eficiente e passageiro exercício de divertimento descartável.

A segunda delas é de que como muitos desses produtos do revival anos 80, este filme é um exercício artificial de "homenagem" daquela época, incapaz de se conectar com o pensamento de outrora e mais parecendo adolescentes atuais fantasiados com roupas cafonas. As atuações até que passam, mas as linhas de diálogo são horrorosas e o filme se esforça demais em mostrar muitas ideias e cenas do livro, sem criar qualquer tipo de tensão real. O tipo de humor é inocente demais pra agradar e limpinho demais para realmente lembrar um pouco do clima liberal dos filmes daquela época. Tal qual o livro (que eu li ano passado e, como muitos destes bestsellers atuais, pouco me lembro), a capa é muito mais interessante que seu conteúdo.


 Dito isso, ainda acredito que o filme tem em suas qualidades mais força do que seus defeitos. Assim como no livro, algumas ideias da trama me agradam muito: a "subversão" da personagem que se torna possuída e a maneira como essa possessão se manifesta é diferentes dos muitos clichês deste subgênero. Além disso, uma das melhores ideias do livro é trazida às telas de uma maneira satisfatória pela sua estética absurda - refiro-me aos evangelistas musculosos que praticam um número de musculação + catequese; contudo, assim como no livro, a ideia é visualmente incrível e bastante engraçada, mas a execução fica aquém do esperado.

Ademais, é preciso destacar que o senhor diretor parece ter se perdido com a quantidade de cenas no livro que no filme parecem desconjuntadas, tornando o trabalho de edição deste filme bastante fraco. De uma certa forma, o fato de ser um produto lançado via streaming (da Amazon) leva a minha opinião crítica a seu respeito ser um pouco mais virulenta. Talvez, se fosse uma daquelas fitas cassete dos anos 80, de uma Alvorada Vídeo da vida, provavelmente que o saldo teria sido mais satisfatório. 

Pôster: Dampyr (2022)


 

 Navegando pelo Imp Awards, em busca de alguma grande novidade em formato de pôster; na aba dos lançamentos gerais, no mês de Outubro, não encontrei muita coisa além das primeiras imagens promocionais do terceiro capítulo da série Creed (aguardadíssima por aqui); partindo para a aba de lançamentos internacionais eu me deparo com pôsteres de uma adaptação de Dampyr, um dos muitos personagens da maravilhosa galeria de personagens do Sergio Bonelli. Confesso que até o presente momento eu só conheço esse personagem mais de nome, mas só de conhecer de onde vem essa grife e a beleza do material promocional, já fico bastante curioso com o que pode vir por aí.

sábado, 15 de outubro de 2022

Inju - O Despertar da Besta (Inju, la bête dans l'ombre, 2008)

 

Certas coincidências são bem agradáveis de perceber quando se é um colecionador de qualquer coisa. No meu caso, uma das minhas coleções é de filmes e meu padrão de compras é bastante difícil de se identificar para qualquer um que não esteja dentro da minha cabeça. Há uns meses eu fiquei completamente extasiado em completar a trilogia Turbulência e, recentemente, venho comprando títulos lançados no Brasil da Hollywood Studios... são idiossincrasias charmosas do mundo do colecionismo, pelo menos para mim. E, foi numa dessas observações da estante que percebi, estupefato, que adquiri uma quantidade considerável de filmes do diretor Barbet Schroeder, sem ter planejado tal movimento. Engraçado, não? Até onde eu sei, ele não é dos diretores mais festejados e conhecidos por aí, até mesmo por mim e, quando me dei conta, tinha três dvds dele nas minhas estantes...

O filme que comentarei brevemente por aqui não é, aliás, de uma leva recente de compras. Pelo contrário, está na minha estante há bastante tempo, tendo sido comprado na última vez que presenciei o "enterro" de uma locadora, no caso a 100% Vídeo da Avenida Afonso Pena, uma das últimas que pereceu em Campo Grande, mais ou menos em 2012, se não falha minha memória. Apesar da mídia estar levemente arranhada, provocando alguns engasgos durante a transmissão (algo sempre irritante), há algum charme em pegar a capinha do dvd e ver aquele selo de "suspense", com a logo da antiga empresa, na lombada do filme - meus amigos, eu sinto muito falta do ambiente das locadoras...

Deixando de lado essas divagações, vamos comentar um pouquinho sobre INJU, um verdadeiro neo-noir dirigido com simplicidade e elegância pelo senhor Schroeder. A trama gira ao redor de um escritor francês de livros policiais (Benoit Magimel) cuja carreira está em plena ascensão, sendo considerado o próximo grande nome do gênero, sucedendo a última grande sensação das tramas policiais - um escritor misterioso japonês, cuja identidade nunca foi revelada, com os livros extremamente cruéis e todo uma aura cult em torno de sua figura. Essa rivalidade profissional entre os escritores acaba assumindo contorno bizarros, especialmente quando o tal autor japonês resolve, durante uma turnê do novato no Japão, ameaça-lo de diversas formas, como se transpusesse para a vida real uma das tramas de seus livros, adicionando-se a figura enigmática e hipnótica de uma gueixa (Lika Minamoto) na história.

 


 Naturalmente, o filme tem suas doses de exagero, especialmente no desenrolar da trama, mas nada que prejudique a sessão, a não ser que se esteja de extrema má vontade. Senti ao longo do filme uma espécie de admiração do diretor diante da sociedade japonesa e alguns de seus elementos culturais mais únicos - o universo das gueixas. Escapa-se da armadilha da reverência alegórica para se explorar uma sinergia de ocidente/oriente bastante interessante, algo similar em filmaços como Chuva Negra e Marcado para Morrer, dois outros policiais que se passam no Japão, representando outros aspectos bastante específicos da cultura japonesa (no caso Yakuza e Samurais, respectivamente).

Uma das coisas mais legais de INJU é a mistura equilibrada de violência, mistérios, investigação e surpresas do filme, embalado por uma interessante trilha sonora e um bom ritmo geral da obra, levando-me a considerá-la como um autêntico neo-noir. Outro aspecto interessante é a mistura de francês e japonês ao longo do filme, bastante agradável aos meus ouvidos. Isso sem falar nos elementos eróticos do filme, em especial a senhorita Lika Minamoto que entrega uma performance absurdamente sensual, inocente e misteriosa ao mesmo tempo.

Trata-se de uma adaptação de um romance escrito pelo autor japonês Edogawa Rampo, importante autor de literatura de gênero japonesa, ainda sem tradução em nosso mercado editorial. Suas histórias foram adaptadas para o mundo dos cinemas dentro do Japão, sendo este escritor considerado uma espécie de Edgard Alan Poe de lá (ele mesmo admirava o autor norte americano).

Distribuído pela Sven Filmes no Brasil, não é um título tão fácil de se achar por aí. Pelas andanças na internet, vi que tem uma cópia em blu-ray lançada na Alemanha que certamente teria seu espaço nas minhas estantes. Um filme eficiente, interessante e que, certamente, eu revisitaria num futuro não tão distante assim.

domingo, 7 de agosto de 2022

O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent, 2022)



 Ultimamente venho buscando algumas experiências em sala de cinema pelas quais ainda não passei durante minha vida. Talvez porque minha percepção é de que o ato de ir ao cinema vem se tornando cada vez menos prazeroso, pela imensa quantidade de pessoas incapazes de permanecer focadas numa história por mais de duas horas - celulares acesos o tempo inteiro, risos e conversas duelando com o som do filme e a má educação geral de uma população em franco emburrecimento. Mas, ainda assim, poucas coisas mexem com meu coração tanto quanto a experiência de encarar a telona e me imaginar como um dos nomes nos créditos dos filmes que eu amo...

Como um fã do Nicolas Cage é óbvio que a trama de O PESO DO TALENTO me chamou extrema atenção, com nosso astro favorito interpretando ele mesmo. E quando me dei conta, a última vez que vi o senhor Cage nas telonas foi em 2011, no divertido (porém completamente esquecível), Caça às Bruxas. Apesar de acompanhar sua prolífica carreira, um tanto erraticamente, confesso que já tinha perdido as esperanças de vê-lo numa sala de cinema da cidade onde moro.

Para quem não sabe, este filme é sobre Nicolas Cage interpretando ele mesmo, numa fase em que está precisando de muita grana. Por essa razão, ele topa ir conhecer um milionário obcecado por ele (em interpretação divertidíssima do ótimo Pedro Pascal), mas acaba se metendo numa trama que parece ter saído diretamente de um filme de ação dos anos 90. 

Há uma esperta utilização de referências a muitos filmes dele (sem cair na armadilha de ser como os exaustivos filmes da Marvel e suas centenas de referências e conexões), uma trama razoavelmente divertida e, naturalmente, o perfeito veículo para Cage dar um show de performance, explosiva e imprevisível como quase tudo que ele entrega atualmente. A direção é bastante sem personalidade e confesso que tem uma dupla de personagens policiais que eu simplesmente obliteraria caso tivesse escrito o roteiro, mas nada que prejudique a obra.

Assim como esse papel parece um presente ao astro, não pude deixar de encarar o filme como uma espécie de presente para fãs de Nic Cage, fãs de filmes despretensiosos, fãs de filmes de ação longe do esquemão Marvel e fãs de histórias com começo, meio e fim. Obrigado, Nic. São pequenos filmes como este que me fazem lembrar dos prazeres do mundo do cinema. 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

O Homem do Norte (The Northman, 2022)


Seguindo uma linha de ser grato pelos pequenos prazeres que a vida pode nos proporcionar, é preciso registrar o quão feliz eu fiquei por ter assistido ao petardo O Homem Do Norte, novíssimo filme de Robert Eggers, diretor do maravilhoso A Bruxa (e do visualmente espetacular, mas ainda não conferido por mim, O Farol). É uma dádiva esse filme ter chegado às salas de cinema da minha cidade, legendado, especialmente após o banho de água fria em meados de Abril, quando sua estreia foi adiada.

Parando para pensar, não há grandes novidades para quem gosta de épicos, entretanto o apuro visual do diretor é um grande atrativo. Eu simplesmente amei a atmosfera imersiva da obra, desde os momentos mais convencionais presentes quanto aquelas cenas mais desafiadoras para uma audiência mais ligada nos blockbusters atuais. Foi reconfortante perceber que durante a sessão a plateia acompanhou o filme silenciosamente, sem gracinhas ou celulares cada vez mais frequentes nas salas de cinema.

Essa imersão foi também proporcionada pelo incrível trabalho de som e trilha sonora. Adorei todo o trabalho de sonoplastia, com a nitidez da percepção de cada golpe de espada, cada tripa estrebuchada e os constantes urros dos personagens. A trilha sonora, distribuída pela gravadora Sacred Bones Records (uma das favoritas da casa), é um verdadeiro banquete ritualístico de tambores e sons que parecem invocar esse passado remoto, tribal e perigoso. 

Preciso destacar a escolha geral do elenco. Desde o protagonista Alexander Skarsgard (com físico inacreditável para este filme), Ethan Hawke, Willem Dafoe, Nicole Kidman, Claes Bang e a já musa deste blog Anna Taylor-Joy - todos entregam ótimas performances, com a dose certa de exagero e fúria, literalmente. 

A experiência da sala de cinema ajudou bastante a me conectar com o filme; não pude deixar de fazer um paralelo com dois filmes assistidos anteriormente: Valhalla Rising, que tinha algo de hermético em seu desenrolar artístico, definitivamente não moldado para a audiência geral e 300, com seu herói gritador e musculoso distribuindo porradaria épica por todos os lados. Eggers pegou um pouco dos dois, adicionou seu toque pessoal de retorno às ancestralidades e nos entregou um dos melhores filmes do ano. Desse aqui, irei atrás do 4k importado.

domingo, 29 de maio de 2022

Livro: Memórias de Um Rato de Locadora por L. G. Bayão


Uma boa adição no espaço da minha biblioteca destinado a livros sobre cinema, Memórias de um Rato de Locadora tem a proposta de listar 80 filmes mais ou menos "esquecidos", como se fossem fitas um tantinho empoeiradas de uma saudosa locadora em detrimento da grande oferta e lançamentos constantes de obras. São filmes que até tiveram seus momentos de maior reconhecimento, entretanto hoje não são tão bem lembrados quanto talvez deveriam. 

Trata-se de uma proposta interessante, mas devo confessar que o título do livro me indicou que iríamos por outro tipo de narrativa, mais memorialista mesmo. Ainda assim, o escritor L. G. Bayão, que também é roteirista de uma penca de filmes nacionais (Kardec, O Doutrinador, entre outros) faz um bom trabalho elencando esses filmes com sinopses suscintas e eficiente em chamar atenção a essas obras. 

Devo elogiar também a seleção de filmes que conta com algumas pérolas esquecidas de fato: pouca gente se lembra da ótima comédia dos anos 90 Empire Records; quem se lembra do divertidíssimo Os Sete Suspeitos com o sempre incrível Tim Curry? Como esqueceram as incríveis perseguições de carro de Ronin, do John Frankenheimer? Ou como encontrar um filme obscuro como a comédia italiana Por Incrível que Pareça, do realizador italiano Uberto Molo?

Entretanto, fica a ressalva quanto a seleção por incluir muito pouco de cinema de gênero, além de não contar com sequer um título de terror, gênero de extrema importância nos mercados de VHS, até os dias atuais. A listagem do livro é coerente, entretanto creio que haveria espaço para citar algumas fitas de horror. 


É um belo trabalho de resgate, mas fica ainda a sugestão de obras de cunho mais pessoal que consigam transmitir a indescritível e inesquecível sensação de se entrar numa videolocadora. Quem sabe eu não deveria investir nesse tipo de projeto...

Abaixo, listo os filmes que são comentados nesta obra:

- À Beira da Loucura
- A Pequena Loja dos Horrores
- A Trapaça
- Alma Corsária
- Almas Gêmeas
- Alucinações do Passado
- Amargo Reencontro
- Apenas Uma Vez
- As Aventuras do Barão Munchausen
- Backbeat: Os Cinco Rapazes de Liverpool
- Bandwagon: Pé Na Estrada
- Bar Esperança
- Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica
- Bom Dia, Vietnã
- Boys n the Hood: Os Donos da Rua
- Brazil: O Filme
- Busca Frenética
- Caindo Na Real
- Caminhos Violentos
- Cecil Bem Demente
- Cidade das Sombras
- Contos de Nova York
- Coração Iluminado
- Corra, Lola, Corra
- Cova Rasa
- Delicatessen
- Depois De Horas
- Diário de um Adolescente
- Donnie Darko
- Drugstore Cowboy
- Empire Records: Sexo, Rock e Confusão
- Estranhos Vizinhos
- eXistenZ
- Faca de Dois Gumes
- Festa
- Filhos da Esperança
- Frankie e Johnny
- Garotos Incríveis
- Gattaca: A Experiência Genética
- Gêmeas
- Ghost Dog: Matador Implacável
- Herói Por Acidente
- Hora de Voltar
- Joe Contra o Vulcão
- Jogos de Guerra
- Kafka
- Lost Boys: Os Garotos Perdidos
- Matinee: Uma Sessão Muito Louca
- Mentes que Brilham
- Mera Coincidência
- Miracle Mile
- Mistério No Colégio Brasil
- Nosso Querido Bob
- O Enigma da Pirâmide
- O Grande Golpe
- O Mistério de Lulu
- O Pagamento Final
- O Pescador de Ilusões
- O Processo
- O Último Guerreiro das Estrelas
- Os 12 Macacos
- OS Heróis não tem Idade
- Os Sete Suspeitos
- Paixão Suicida
- Para Sempre na Memória
- Parceiros do Crime
- Por Incrível que Pareça
- Rock & Rule: A Viagem Musical
- Ronin
- Separações
- Stay: A Passagem
- Te Pego Lá Fora
- The Commitments: Loucos pela Fama
- The Wonders: O Sonho Não Acabou
- Um Misterioso Assassinato em Manhattan
- Um Tiro Na Noite
- Um Visto para o Céu
- Vamos Nessa
- Vida de Solteiro
- Vidas Em Jogo

domingo, 1 de maio de 2022

Trailer: Benediction (2021)

 


Que surpresa agradável saber que a vida do poeta Siegfried Sassoon se tornou um novo filme a chegar (ou não) nas nossas telas de cinema. Foi um veterano da Primeira Guerra Mundial que ficou famoso pela temática cristã de sua arte, tornando-se uma interessante história de conversão, especialmente considerando os horrores que ele presenciou durante a terrível guerra. Pelo trailer, é possível que se foquem apenas na sexualidade dele, o que para mim tornaria o filme meio comum, mas creio que precisaremos assistir para ver como o caminho desta narrativa. Produção britânica com o competente Peter Capaldi, só fico a lamentar que dificilmente conseguirei assistir numa tela de cinema. Ainda assim, uma obra que entra no meu radar.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

The Sadness (2021)



Nos últimos anos venho observando em mim mesmo uma resistência referente a como a violência é mostrada em um filme. Para mim, é preciso haver algum sentido nela, algo por trás do simples choque, especialmente se pensarmos nos horrores da vida real. Entendam que eu ainda adoro filmes extremos e a ideia de cineastas quebrando barreiras para exibir cenas chocantes dentro de uma narrativa; minha mais recente aquisição em Blu-ray foi uma cópia de Der Todesking - quem gosta de cinema bizarro provavelmente já está familiarizado, mas se este não for seu caso, uma hora dessas publico uma resenha deste filme por aqui. 

Dito isso, temos o tão comentado THE SADNESS o qual conferi ontem à noite. Uma cidade em Taiwan é assolada por um surto de uma estranha doença que transforma os afetados em canibais e sádicos - uma epidemia de violência. A história acompanha um casal que busca sobreviver diante dessa calamidade, tentando se reencontrar para fugirem dali. 

A tal epidemia é a desculpa para se mostrar uma quantidade inacreditável de sangue e loucura: bebês em saco de lixo, suicídios, perfurações com os mais diversos instrumentos, atropelamentos, olhos extirpados, estupros e muito mais. O cardápio de atrocidades é gigantesco e mostrado sem frescura durante a projeção. Entretanto, a coleção de ideias grotescas mostrada neste filme me passa uma sensação de que o roteirista e diretor Rob Jabbaz pensou em como encaixar cenas visualmente impressionantes com um fiapo de história. 

Sim, é um fiapo de história. Ele até tenta colocar umas explicações perto do final e alguma densidade em suas críticas, entretanto não há substância alguma. Há críticas em relação aos políticos que não sabem enfrentar uma crise (a cena da coletiva de imprensa é a pior do filme, até pela qualidade técnica muito abaixo da mostrada ao longo da sessão), a desinformação, a descrença em relação a condutas médicas e científicas em geral (como se não houvesse motivo para tal, especialmente fazendo-se um paralelo com nossa realidade recente); tais críticas não são colocadas como uma reflexão, mas sim como postulados e, dessa forma, soam esvaziadas como o discurso de universitários "revolucionários".


Uma cena que ilustra bem essa argumentação pobre é o início da cena do metrô, onde a personagem principal, Kat, é incomodada por um senhor que tenta puxar papo e se mostra extremamente inconveniente. A resposta da personagem é ameaçar denunciar o personagem como assediador, o que o leva a ficar resmungando sobre como as mulheres hoje em dia se comportam de uma forma injusta, porque ele apenas estava conversando com ela. Há um óbvio subtexto feminista aqui, especialmente considerando que, sem surpresa nenhuma, o tal senhor é infectado e se torna um dos grandes vilões do filme. 

O que me incomoda é o seguinte: se Kat considerou a conduta do senhor imprópria, talvez ela devesse ter denunciado o cara e não ameaçado, mantendo-se ao lado dele no metrô. A cartada do "vou te denunciar por assédio" é inacreditavelmente utilizada mais uma vez no filme, quando ela precisa do celular emprestado de um "virjão", cujo pano de fundo é uma personagem peituda de anime. E, claro, esse infeliz acaba tendo um destino pra lá de sangrento.

No final das contas, eu acho que acabei por entender a razão do título do filme ser A tristeza. Nós somos quase que como essas bestas feras do filme, apenas a um gatilho de explorarmos as mais diversas formas de violência possíveis de se imaginar. E essa conclusão niilista do diretor é, sem nenhum exagero, algo extremamente depressivo de se concluir após seus enxutos 90 minutos de duração. 

Diante de suas mensagens vazias, sobram as cenas de violência que são tecnicamente interessantes e cheias de sangue, uma maquiagem muito decente em sua maioria. Mas é só isso mesmo. Lembram daquele filme Fim dos Tempos do Shyamalan? Para mim, esse aqui é aquele mesmo filme, porém bem mais porra louca. 

domingo, 17 de abril de 2022

Poster - Crimes Of The Future (2022)


 Eu sou um otimista incorrigível. Muitas vezes, caio do cavalo, mas quando uma notícia como um novo filme de David Cronenberg, após 8 anos desde sua última obra como diretor,  cujo lançamento será logo ali, na esquina dos próximos meses, possivelmente revisitando a temática de horror que marcou sua carreira, é impossível não me conter e ter a convicção de que é bom ser um cara otimista, porque as boas notícias eventualmente surgem. Às vezes, elas demoram, porém elas surgem. Além de um teaser trailer bastante instigante, ler as palavras que Cronenberg nos deixam ainda mais sedentos por este próximo lançamento. Vou reproduzi-las abaixo e lanço uma enquete, cuja resposta provavelmente será silenciosa: devo fazer uma maratona David Cronenberg por aqui no blog? Quem sabe...

CRIMES OF THE FUTURE is a meditation on human evolution. Specifically -  the ways in which we have had to take control of the process because we have created such powerful environments that did not exist previously.
 
CRIMES OF THE FUTURE is an evolution of things I have done before. Fans will see key references to other scenes and moments from my other films. That’s a continuity of my understanding of technology as connected to the human body. 
 
Technology is always an extension of the human body, even when it seems to be very mechanical and non-human. A fist becomes enhanced by a club or a stone that you throw - but ultimately, that club or stone is an extension of some potency that the human body already has.
 
At this critical junction in human history, one wonders -  can the human body evolve to solve problems we have created? Can the human body evolve a process to digest plastics and artificial materials not only as part of a solution to the climate crisis, but also, to grow, thrive, and survive?
 
~ David Cronenberg

segunda-feira, 28 de março de 2022

Spencer (2021)

Nunca poderia esperar o quanto este filme me agradou. SPENCER é um recorte bastante particular de três dias na vida da Princesa Diana, especificamente durante o feriado de Natal. Acompanhamos, naturalmente, a atmosfera opressiva e a lenta degradação mental e psicológica dessa magnética personagem do século XX. 

Com muitas abordagens óbvias possíveis, o diretor Pablo Larraín constrói um verdadeiro suspense com MUITA influência do Kubrick - a câmera desliza pelo castelo da família real inglesa como deslizava no Hotel Stanley do filme O Iluminado. Me impressiona positivamente o fato de que o diretor consegue expressar esse clima sem impor qualquer visão política mais óbvia, mas apenas baseando-se em aspectos psicológicos que nos levam a entrar no universo psicológico de Diana, capitaneado pela grande interpretação da Kristen Stewart, realmente impressionante neste papel. 

Há essa violência psicológica ao longo do filme, uma tensão permanente que também me lembrou muito ao espetacular De Olhos Bem Fechados - a sensação de mistérios se desenrolando a nossa frente, ainda impossíveis de se desvendar, principalmente porque certas maldades e ações humanas se tornam simplesmente inconcebíveis para pessoas razoáveis. É preciso ter muito talento para ser hermético sem apelar para enigmas baratos. 

Há um excelente andamento, bem como um ótimo trabalho de edição, ao contrários dos inchados filmes Hollywoodianos atuais com seus longuíssimos tempos de metragem (há exceções, naturalmente). A trilha sonora é um espetáculo, assinada pelo guitarrista do Radiohead, Johnny Greenwood. Também é preciso destacar o design de produção, figurino, maquiagem e a fotografia do filme que literalmente representa a expressão em inglês "Every frame is a painting" (cada fotograma é uma pintura).

No final das contas, um trabalho com toda essa excelência e garbo pareceu-me, num primeiro momento, injustiçado quanto ao número de indicações ao Oscar. Considerando, porém, a bizarrice, baixaria e feiura da cerimônia da última noite, fica a certeza de que SPENCER é um filme muito acima dessa patacoada. 

domingo, 6 de março de 2022

SXSW 2022 - As Escolhas do Editor

 Para alguns pode até parecer um prazer masoquista escrever sobre filmes que, muito provavelmente, eu não conseguirei assistir no cinema e, mais provável ainda, nem tão cedo, mesmo com os torrents da vida. Entretanto, esse tipo de lista ajuda a me guiar quanto possíveis sessões futuras, bem como servem também como um termômetro daquilo que entra no meu radar cinéfilo ao longo do ano. Assim, alguns dos filmes ainda não tem quase nada de material de marketing divulgado e, por essa razão, me baseei em sinopses e pessoas envolvidas na produção.

Um adicional: ao contrário de edições anteriores, poucos documentários me chamaram a atenção e, destes, nenhum de temática musical. Logicamente isso pode mudar, entretanto quis chamar atenção a esse fato.

The Lost City - É uma pena que o trailer segue a péssima tendência de se revelar coisas demais da trama. Ainda assim, há uma sensação de comédia na linha de algumas saudosas obras do Cary Grant simplemente irresistível. Além disso, sabemos que Channing Tatun funciona bem em papeis cômicos e Sandra Bullock também - cá entre nós, os últimos papeis mais sérios dela foram bem fraquinhos. Parece ser divertidíssimo e só de ser um título original, eu já fiquei curioso - grande chance de ser assistido nos cinemas de onde eu moro. 

The Unbereable Weight Of Massive Talent - Nicolas Cage interpretando ele mesmo! De quebra temos também o ótimo Pedro Pascal como um fã obcecado do astro. O trailer diverte bastante, mas há algum risco de se tornar um filme de uma ideia brilhante completamente esticada. Para nossa segurança, parece que não há nenhuma intenção de se levar a sério (que seria como um tiro de bazuca no próprio pé) e Nic Cage é uma garantia de um mínimo de entretenimento.

Pirates - Eu adoro o cinema britânico. Dito isso, confesso que esse filme não me passa a mesma segurança dos dois filmes citados acima. Contudo, a história de três amigos passando o final de ano na Londres de 1999, regado da música eletrônica local, me cativou pelo cenário, trilha sonora e a temática de fim de ano, que não costuma render filmes muito bons (ao contrário do feriado que o antecede). Uma obra com belos pontos de partida - só saberei se conseguiu alcançar seus objetivos assistindo-a.

X - O diretor Ti West volta a dirigir um longa metragem após 6 anos dirigindo episódios de séries. No mundo de extremismos da internet, tem gente que ama o cara e gente que o odeia. Os poucos filmes que eu assisti do cara até hoje (The Sacrament e In a Valley of Violence) foram boas experiências. Seu mais novo filme é sobre uma equipe de filmagem de um pornô nos anos 70 despertando a fúria de uns caipiras no interior do Texas. Só torço para que ele não leve essa trama a sério, porque pode ser um desastre. 



E mais algumas coisas interessantes, mas ainda sem praticamente nenhum material de divulgação: Slash/Back é um filme canadense de garotas esquimós enfrentando uma invasão alienígena; a sumida Elisha Cuthbert estrela um novo filme de terror chamado The Cellar; um documentário sobre a lenda do skate, Tony Hawk; Bodies Bodies Bodies parece ser aquele típico terror adolescente "hit or miss", mas depois do eficiente último filme da série Pânico, estou disposto a dar uma chance.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Trailer: Jurassic World Dominion (2022)

Não cheguei a comentar por aqui, mas tudo aquilo que eu gostei no primeiro episódio desta nova trilogia do universo Jurassic Park foi obliterado num segundo filme simplesmente catastrófico. Um terceiro filme será lançado neste ano e confesso que meu queixo caiu diante deste trailer (provavelmente pelo gosto amargo do segundo filme, visto a não tão pouco tempo por mim). Sim, é completamente "nonsense" e "over the top", porém parece que teremos uma bela aventura lotada de grandes cenas de ação. E, claro, a volta de Sam Raimi, Laura Dern e Jeff Goldblum acrescenta mais expectativa, principalmente para quem ama o primeiro filme. Se conseguir me diverti, já estará de bom tamanho




terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Top 5 Filmes de 2021

Completamente "fora do timing" da internet, resolvi compartilhar por aqui um brevíssimo ranking dos meus cinco filmes favoritos de 2021. Algumas considerações são necessárias, antes de mais nada:

- A quantidade de filmes assistido em 2021 foi bastante ridícula o que tornou a realização desta lista um pouco mais difícil. Foram MUITOS os (prováveis) bons filmes que eu deixei passar, não tenho a menor dúvida disso. 

- Infelizmente, apenas um desses filmes eu assisti numa sala de cinema propriamente dita, especialmente pela diminuição preocupante da oferta de filmes legendados na minha cidade. 

- Essa é uma lista muy dinâmica, o que significa que em 1 dia ou em 1 ano, ela provavelmente será diferente. Contudo, servirá a título de registro histórico e povoar nosso pequeno catálogo de postagens.

É isso: chega de enrolação e bora para os filmes:

5 - Invocação do Mal 3 - Eu acho a ideia desse universo de história baseado nas aventuras do casal paranormal Ed e Lorraine Warren uma excelente jogada da Warner em que todos nós ganhamos. Vera Farmiga e Patrick Wilson continuam muito bem como protagonistas e o novo diretor, Michael Chaves, copia alguns maneirismo do James Wan, conseguindo manter a marca visual do idealizador desta franquia. O baseado em fatos reais serve para assustar os mais desavisados e, apesar desse marketing mais manjado, essa terceira parte diverte e continua muito bem a série de filmes. Que venha uma quarta produção!


4 - Jungle Cruise - Se Dwayne "The Rock" Johnson não maneirar na sua gimmick de "o cara mais legal de Hollywood", sua carreira de ator vai sempre esbarrar nele interpretando os mesmo papeis. Tirando isso, Jungle Cruise é uma divertidíssima aventura da Disney, do ótimo diretor Jaume Collet-Serra. Lotada de clichês e extrapolando alguns minutos além do necessário, Jungle Cruise consegue se lançar como uma potencial franquia de aventura, melhor do que todas as últimas tentativas do gênero. Além de ser um soprinho de novidade no mundo saturado de continuações e adaptações de quadrinhos dos blockbusters.


3 - Loucos por Justiça - Do fundo do meu coração, eu tenho a impressão de que o Mads Mikkelsen não tem nenhum filme ruim em sua carreira, sem brincadeira. Provavelmente estou errado, mas não consigo citar nenhum filme que eu tenha assistido com ele que eu não tenha gostado. Aqui, temos um filme de ação dinamarquês com muitas pitadas de drama e comédia, além de algumas doses de surpreendente violência. A meu ver, melhor trabalho em conjunto de elenco, Loucos por Justiça é aquele típico filme de vingança que ainda consegue surpreender. 



2 - Duna - Praticamente tudo funciona em Duna. Até pontos considerados mais sensíveis por mim (como o ator principal Timothée Chalamet) se encaixam perfeitamente nesta difícil adaptação de um livro magistral. O filme é tecnicamente perfeito e assisti-lo numa sala de cinema ajudou muito a mergulhar nesse universo futurista e macabro. Só não fica mais acima na minha lista porque é um filme que me impressiona e me arrebata muito mais do que me encanta, provavelmente pelo tom geral da obra e pela direção sempre fria de Dennis Villeneuve. 


1 - Brighton 4th - Aí sim, meus amigos! Acompanhei alguns filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e nada estava realmente me impressionando ou deixando uma boa impressão. Até ter assistido a essa pérola diretamente da Geórgia (o país), um conto de um pai ainda tendo de salvar a pele de seu filho bundão apostador. Que filme maravilhoso - um mergulho no microcosmo de imigrantes do leste europeu sobrevivendo em Nova York, mantendo sua cultura viva de forma natural e bela, sem necessidade de discursos políticos rasos e aquela dosagem agridoce do politicamente correto. A última cena vai ficar na minha cabeça por longos anos, não tenho dúvidas. Um filme potente, poético e inesquecível.