domingo, 19 de março de 2023

The Banshees Of Inisherin (2022)


O que seria um Banshee? Pela wikipédia, trata-se de uma criatura da mitologia celta, uma espécie de fada maligna cuja maior maneira de se expressar é por meio do som: ou um gemido melancólico transportado pelo uivo do ventou ou por um grito ensurdecedor, anunciador da morte.

Antes de conferir o filme, após a divulgação de um excelente trailer e todas as resenhas positivas me levaram a pensar o que diabos significava o título desse filme. Foi ao final da projeção e pensando sobre o que eu acabara de assistir que consegui enxergar (eu acho) o sentido do título e de toda essa fábula tristonha sobre a morte.

Porque o que cerca toda essa história são muitas esferas da morte e uma incômoda visão de que a bucólica ilha Irlandesa onde se passa a história, apesar de toda sua beleza natural e a distância da sessão continental (afligida pela Guerra Civil Irlandesa), não possui a paz que parecia transpirar. E para mim, que sempre amou e romantizou a Irlanda, o filme acabou por me atingir ainda mais. 

Todo mundo já sabe que se trata de uma história sobre o fim de uma amizade entre Padraíc (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson). Colm decide encerrar a amizade com o tolo Padraíc pois sente o avançar do tempo e a necessidade de utilizar o tempo que lhe resta de forma mais produtiva, para deixar alguma marca mais permanente (no seu caso, específico, deixar uma marca musical). As repercussões deste final de amizade afetam a rotina desse vilarejo e seus habitantes. 

Uma das coisas mais interessantes ao longo da película é o clima cada vez mais tenso até um "inevitável" clímax entre esses dois personagens. Seria, porém, inevitável mesmo? A escalada de violência e irracionalidade incomoda, principalmente porque os próprios personagens parecem perceber isso, entretanto pouco fazem para evitá-la. Aliás, a única personagem que nos acalenta, neste sentido, é a irmã de Padraíc, Siobhan (Kerry Condon - a adorável menina do filme Cão de Briga, com o Jet Li), uma espécie de Bela, do filme A Bela e a Fera, caso a mesma não tivesse vivido um romance maravilhoso e tivesse morado na mesma vila, para sempre. Ela percebe a estupidez em torno das decisões e até tenta chamar a atenção a isso, mas parece tomar a melhor decisão do filme inteiro.

As atuações neste filme são excepcionais, mas é preciso destacar Colin Farrell que entrega um personagem muito interessante. Padraíc é um homem simples, com poucos recursos intelectuais, um primitivo cuja inocência encanta e a fúria surpreende. Ele fica incrédulo com os efeitos que suas ações desencadeiam, sempre opostos ao que ele esperava.

Colm é tão primitivo quanto seu amigo, mas acredita ser um pouco menos tosco que Pradaíc, o que é um grande erro de julgamento. As ações destes dois personagens delineiam o absurdo das consequências. Apesar de até entender os motivos de Colm, suas escolhas são deploráveis e infantis. 

Martin McDonagh escreve e dirige este filmaço que lembra um pouco o ótimo In Bruges, mas numa versão mais melancólica e poética. De uma certa forma, é estranho pensar que eu gostei do filme mas o gosto amargo dessa história fica acentuado demais em minha boca, o suficiente para eu pensar que na Irlanda deste filme, pessoalmente, quero ficar longe. 

Pôster: Tetris (2023)


Minha impressão é que esse filme entregará um dos maiores divertimentos do ano, principalmente pela surpresa que uma obra baseada no jogo Tetris pudesse gerar uma obra "assistível". Neste caso, o foco parece que será a gênese do clássico game, incluindo o sempre fascinante período da Guerra Fria. Detalhe que eu não reconheci o Taron Egerton no papel principal (o rapaz do Kingsman vem desenvolvendo uma bela carreira). 

domingo, 12 de março de 2023

Desventuras de Um Cinéfilo - Impressões da Temporada do Oscar 2023 #02


Cá estamos nós na tarde que antecede o Oscar, numa edição de filmes bem interessantes e algumas boas decisões relacionadas a cerimônia em si, como a volta de um host (mesmo não sendo uma opção do meu agrado). 

Atualmente, não há aquela excitação antiga que me inundava anteriormente. Hoje, passei a tarde lendo, um livro curioso sobre países que não existem mais. Lembro-me da edição de 2009, que passei justamente o período da tarde assistindo o máximo de filmes daquela edição que eu ainda não tinha conferido. O paralelo com esses países que deixaram de existir é notável: tornaram-se apenas memórias.

Como foi, afinal, minha temporada do Oscar? Foi difícil, principalmente porque a vida me impôs uma série de decisões profissionais, mudanças na rotina, inseguranças e toda sorte de indefinições desconfortáveis do final de Janeiro até hoje. Sem perceber, sacrifiquei a diligente missão de assistir esses filmes.

Preciso, porém, dividir essa culpa: as redes de cinema de Campo Grande recusaram-se a exibir muitos desses filmes. Inacreditável filmes grandes como Banshees de Inisherin, Women Talking, Tár e Triangle of Sadness foram ignorados pelas grandes salas. Pelo menos exibiram A Baleia (que eu assisti já 2 vezes e, provavelmente, assistirei mais). Bastante descaso com os abnegados que ainda insistem em "tentar" acompanhar o mundo do cinema mais sério.

Em todo caso, chega de lamentações, pois há motivos de festa: It's The Oscar's! A Globo não mutilará a festa com sua exibição capenga, Will Smith não aparecerá para agredir o Chris Rock, Lenny Kravitz cantará no segmento "in memorian", alguns filmes bacanas para se torcer e sentir-se parte do mundo de cinema, mais uma vez. 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Richard Belzer é uma das caras da Nova York da qual insisto em sonhar



Foi com grande pesar que fiquei sabendo do falecimento do magnético Richard Belzer. Não foi um grande astro do cinema, mas certamente fez história na televisão norte americana ao encarnar o detetive John Munch que apareceu em nada menos do que 11 diferentes seriados, em alguns momentos aparecendo em três TV shows ao mesmo tempo!

John Munch era aquele policial irônico e cheio de malícia, um cínico de primeira linha, mas com um coração, lá no fundo. Na série Law And Order: Special Victims Unit ele fazia um excelente contraponto à dupla principal Stabler e Benson, tendo sempre uma espécie de capa que disfarçava seus reais sentimentos.

Talvez pelo tempo em que fez esse papel, Belzer e Munch pareciam se confundir: ambos democratas ferrenhos, conspiracionistas (Belzer publicou uma série de livros sobre teorias da conspiração, de JFK até Ovnis) e com uma fleugma irônica, típica de alguns comediantes mais das antigas. Num momento Belzer/Munch, escreveu um livro sobre um ator chamado Richard Belzer que interpreta um policial na televisão, chamado Munch, que desvenda um crime grotesco - a obra se chama "I Am Not A Cop!".

Há um curioso caso em que durante um talk-show que apresentava, Hulk Hogan aplicou um mata-leão de "brincadeira" nele. Belzer, magrelo como um grilo, mal resistiu ao golpe e desmaiou, batendo a cabeça no chão do cenário. O susto foi rápido, mas rendeu um traumatismo craniano, sutura e um processo contra o wrestler (que não foi pra frente, após um acordo entre as partes).

Me parece que Belzer era uma bela amostra de um tipo de norte americano que não tenho certeza se ainda é "produzido" pelo país. Um típico americano desconfiado, frágil e cínico, levemente presunçoso mas ainda assim magnético. Sem dúvida, fez parte da minha infância e do meu imaginário. Felizmente, tenho muitos trabalhos dele para conhecer - provavelmente a maior dádiva de ser um artista. 

Homem Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania, 2023)


Dois parágrafos para entender meus sentimentos em relação a este filme:

A primeira delas é de que foi uma experiência boa: cinema vazio, filme legendado, entretenimento competente durante a duração do filme que me fez esquecer completamente as preocupações do "mundo lá fora". É um universo alienígena muito inspirado em Star Wars (com direito até uma cantina à la Uma Nova Esperança), diga-se de passagem.  As piadas funcionam razoavelmente bem (sem aquela overdose de gracinhas) e, lá pelo meio da trama, temos o resgate do elemento mais charmoso dessa trilogia - há algo como um roubo a ser executado.

Entretanto, o filme conta com uma grande dose de desleixo visual, especialmente o 3d vagabundo que serve apenas para aumentar (e muito) o valor do ingresso. A trama é boba e se prende demais na ideia de que um novo e perigoso vilão está surgindo no universo da Marvel - um bom vilão, com interessante interpretação, contudo prejudicada por uma nuvem de expectativa dos produtores. Este, aliás, é o principal problema desta obra e de grande parte dos últimos filmes de heróis da Casa das Ideias, essa necessidade de ligar pontos e criar pontes entre obras futuras e passadas, tornando acompanhar esses filmes um tanto quanto exaustivo e infantil (num sentido ruim). 

No final das contas, acredito que o terceiro filme do Homem Formiga é divertido, especialmente se considerado como uma aventura solo, buscando-se esquecer do "aspecto multiverso" desses filmes. Ainda queremos entrar numa sala de cinema e apenas nos divertirmos por pouco mais de duas horas, sem amarras com o mundo exterior. Será que a Marvel ainda consegue fazer algo assim?