domingo, 30 de outubro de 2022

O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (My Best Friend's Exorcism, 2022)

 


Creio que falar sobre esse filme desperta em mim duas linhas de pensamento:

A primeira delas é de que se trata de um filminho razoavelmente divertindo, nadando nessa maré de revivalismo dos anos 80, principalmente de alguns aspectos de sua estética. Há uma agradável sensação de se estar diante de um daqueles descompromissados exemplares de comédia adolescente/terror, um tanto quanto esquecível de uma maneira geral. Os atores foram bem escolhidos, a produção visual é bacana e o filme é curto e direto ao ponto, além da trama se fechar em um único longa-metragem (porque, francamente, a ideia de tudo se tornar uma franquia - ou "universo expandido", um termo pra lá de "sojado" e imbecil desta geração - me cansa profundamente). Assim, O EXORCISMO DA MINHA MELHOR AMIGA é um eficiente e passageiro exercício de divertimento descartável.

A segunda delas é de que como muitos desses produtos do revival anos 80, este filme é um exercício artificial de "homenagem" daquela época, incapaz de se conectar com o pensamento de outrora e mais parecendo adolescentes atuais fantasiados com roupas cafonas. As atuações até que passam, mas as linhas de diálogo são horrorosas e o filme se esforça demais em mostrar muitas ideias e cenas do livro, sem criar qualquer tipo de tensão real. O tipo de humor é inocente demais pra agradar e limpinho demais para realmente lembrar um pouco do clima liberal dos filmes daquela época. Tal qual o livro (que eu li ano passado e, como muitos destes bestsellers atuais, pouco me lembro), a capa é muito mais interessante que seu conteúdo.


 Dito isso, ainda acredito que o filme tem em suas qualidades mais força do que seus defeitos. Assim como no livro, algumas ideias da trama me agradam muito: a "subversão" da personagem que se torna possuída e a maneira como essa possessão se manifesta é diferentes dos muitos clichês deste subgênero. Além disso, uma das melhores ideias do livro é trazida às telas de uma maneira satisfatória pela sua estética absurda - refiro-me aos evangelistas musculosos que praticam um número de musculação + catequese; contudo, assim como no livro, a ideia é visualmente incrível e bastante engraçada, mas a execução fica aquém do esperado.

Ademais, é preciso destacar que o senhor diretor parece ter se perdido com a quantidade de cenas no livro que no filme parecem desconjuntadas, tornando o trabalho de edição deste filme bastante fraco. De uma certa forma, o fato de ser um produto lançado via streaming (da Amazon) leva a minha opinião crítica a seu respeito ser um pouco mais virulenta. Talvez, se fosse uma daquelas fitas cassete dos anos 80, de uma Alvorada Vídeo da vida, provavelmente que o saldo teria sido mais satisfatório. 

Pôster: Dampyr (2022)


 

 Navegando pelo Imp Awards, em busca de alguma grande novidade em formato de pôster; na aba dos lançamentos gerais, no mês de Outubro, não encontrei muita coisa além das primeiras imagens promocionais do terceiro capítulo da série Creed (aguardadíssima por aqui); partindo para a aba de lançamentos internacionais eu me deparo com pôsteres de uma adaptação de Dampyr, um dos muitos personagens da maravilhosa galeria de personagens do Sergio Bonelli. Confesso que até o presente momento eu só conheço esse personagem mais de nome, mas só de conhecer de onde vem essa grife e a beleza do material promocional, já fico bastante curioso com o que pode vir por aí.

sábado, 15 de outubro de 2022

Inju - O Despertar da Besta (Inju, la bête dans l'ombre, 2008)

 

Certas coincidências são bem agradáveis de perceber quando se é um colecionador de qualquer coisa. No meu caso, uma das minhas coleções é de filmes e meu padrão de compras é bastante difícil de se identificar para qualquer um que não esteja dentro da minha cabeça. Há uns meses eu fiquei completamente extasiado em completar a trilogia Turbulência e, recentemente, venho comprando títulos lançados no Brasil da Hollywood Studios... são idiossincrasias charmosas do mundo do colecionismo, pelo menos para mim. E, foi numa dessas observações da estante que percebi, estupefato, que adquiri uma quantidade considerável de filmes do diretor Barbet Schroeder, sem ter planejado tal movimento. Engraçado, não? Até onde eu sei, ele não é dos diretores mais festejados e conhecidos por aí, até mesmo por mim e, quando me dei conta, tinha três dvds dele nas minhas estantes...

O filme que comentarei brevemente por aqui não é, aliás, de uma leva recente de compras. Pelo contrário, está na minha estante há bastante tempo, tendo sido comprado na última vez que presenciei o "enterro" de uma locadora, no caso a 100% Vídeo da Avenida Afonso Pena, uma das últimas que pereceu em Campo Grande, mais ou menos em 2012, se não falha minha memória. Apesar da mídia estar levemente arranhada, provocando alguns engasgos durante a transmissão (algo sempre irritante), há algum charme em pegar a capinha do dvd e ver aquele selo de "suspense", com a logo da antiga empresa, na lombada do filme - meus amigos, eu sinto muito falta do ambiente das locadoras...

Deixando de lado essas divagações, vamos comentar um pouquinho sobre INJU, um verdadeiro neo-noir dirigido com simplicidade e elegância pelo senhor Schroeder. A trama gira ao redor de um escritor francês de livros policiais (Benoit Magimel) cuja carreira está em plena ascensão, sendo considerado o próximo grande nome do gênero, sucedendo a última grande sensação das tramas policiais - um escritor misterioso japonês, cuja identidade nunca foi revelada, com os livros extremamente cruéis e todo uma aura cult em torno de sua figura. Essa rivalidade profissional entre os escritores acaba assumindo contorno bizarros, especialmente quando o tal autor japonês resolve, durante uma turnê do novato no Japão, ameaça-lo de diversas formas, como se transpusesse para a vida real uma das tramas de seus livros, adicionando-se a figura enigmática e hipnótica de uma gueixa (Lika Minamoto) na história.

 


 Naturalmente, o filme tem suas doses de exagero, especialmente no desenrolar da trama, mas nada que prejudique a sessão, a não ser que se esteja de extrema má vontade. Senti ao longo do filme uma espécie de admiração do diretor diante da sociedade japonesa e alguns de seus elementos culturais mais únicos - o universo das gueixas. Escapa-se da armadilha da reverência alegórica para se explorar uma sinergia de ocidente/oriente bastante interessante, algo similar em filmaços como Chuva Negra e Marcado para Morrer, dois outros policiais que se passam no Japão, representando outros aspectos bastante específicos da cultura japonesa (no caso Yakuza e Samurais, respectivamente).

Uma das coisas mais legais de INJU é a mistura equilibrada de violência, mistérios, investigação e surpresas do filme, embalado por uma interessante trilha sonora e um bom ritmo geral da obra, levando-me a considerá-la como um autêntico neo-noir. Outro aspecto interessante é a mistura de francês e japonês ao longo do filme, bastante agradável aos meus ouvidos. Isso sem falar nos elementos eróticos do filme, em especial a senhorita Lika Minamoto que entrega uma performance absurdamente sensual, inocente e misteriosa ao mesmo tempo.

Trata-se de uma adaptação de um romance escrito pelo autor japonês Edogawa Rampo, importante autor de literatura de gênero japonesa, ainda sem tradução em nosso mercado editorial. Suas histórias foram adaptadas para o mundo dos cinemas dentro do Japão, sendo este escritor considerado uma espécie de Edgard Alan Poe de lá (ele mesmo admirava o autor norte americano).

Distribuído pela Sven Filmes no Brasil, não é um título tão fácil de se achar por aí. Pelas andanças na internet, vi que tem uma cópia em blu-ray lançada na Alemanha que certamente teria seu espaço nas minhas estantes. Um filme eficiente, interessante e que, certamente, eu revisitaria num futuro não tão distante assim.