Nunca poderia esperar o quanto este filme me agradou. SPENCER é um recorte bastante particular de três dias na vida da Princesa Diana, especificamente durante o feriado de Natal. Acompanhamos, naturalmente, a atmosfera opressiva e a lenta degradação mental e psicológica dessa magnética personagem do século XX.
Com muitas abordagens óbvias possíveis, o diretor Pablo Larraín constrói um verdadeiro suspense com MUITA influência do Kubrick - a câmera desliza pelo castelo da família real inglesa como deslizava no Hotel Stanley do filme O Iluminado. Me impressiona positivamente o fato de que o diretor consegue expressar esse clima sem impor qualquer visão política mais óbvia, mas apenas baseando-se em aspectos psicológicos que nos levam a entrar no universo psicológico de Diana, capitaneado pela grande interpretação da Kristen Stewart, realmente impressionante neste papel.
Há essa violência psicológica ao longo do filme, uma tensão permanente que também me lembrou muito ao espetacular De Olhos Bem Fechados - a sensação de mistérios se desenrolando a nossa frente, ainda impossíveis de se desvendar, principalmente porque certas maldades e ações humanas se tornam simplesmente inconcebíveis para pessoas razoáveis. É preciso ter muito talento para ser hermético sem apelar para enigmas baratos.
Há um excelente andamento, bem como um ótimo trabalho de edição, ao contrários dos inchados filmes Hollywoodianos atuais com seus longuíssimos tempos de metragem (há exceções, naturalmente). A trilha sonora é um espetáculo, assinada pelo guitarrista do Radiohead, Johnny Greenwood. Também é preciso destacar o design de produção, figurino, maquiagem e a fotografia do filme que literalmente representa a expressão em inglês "Every frame is a painting" (cada fotograma é uma pintura).
No final das contas, um trabalho com toda essa excelência e garbo pareceu-me, num primeiro momento, injustiçado quanto ao número de indicações ao Oscar. Considerando, porém, a bizarrice, baixaria e feiura da cerimônia da última noite, fica a certeza de que SPENCER é um filme muito acima dessa patacoada.
Bom post, concordo com tudo que você escreveu. Gostaria de ver um post dedicado à trilha sonora do filme, talvez comentando também a trilha sonora de "The Power of the Dog", que é do mesmo autor...
ResponderExcluirAinda não conferi The Power of The Dog. Confesso que o cinema da Jane Campion me dá uma sensação esquisita, meio desoladora. Lembro quando assisti O Piano e pelo amor de Deus que filme sufocante.
ResponderExcluirMeu antigo blog costumava ter alguns posts de trilha sonora, mas achei essa sua ideia ótima. Recentemente fiquei maravilhado com a trilha sonora do novo Batman - talvez eu comece a fazer uns comentários por aqui.