Atualmente, é algo extremamente complicado desassociar o cinema da música. Praticamente todos os filmes possuem uma trilha sonora que o auxilia na construção da narrativa, sendo uma ferramenta excepcional para a realização de uma obra cinematográfica. Em Botinada, a Origem do Punk no Brasil, isso não é diferente: nesse documentário, a música é o tema de análise do cineasta Gastão Moreira.
Mas não se trata de qualquer música; estamos falando do Punk, a contracultura que surgiu na esteira da Guerra Fria representando toda a raiva e indignação da juventude da época. O movimento punk influenciou as artes em geral, em especial a música, que serviu de meio de expressão mais recorrente dos ideais punks.
O documentário Botinada foca suas lentes sobre o movimento punk no Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo, durante as décadas de 70 e 80, momento em que as bandas punks tiveram seu auge por aqui. No filme, temos os depoimentos de cantores e outras pessoas envolvidas nessa realidade, que contam as causas, influências e conseqüências do Punk para a modelagem de nossa identidade musical, mais profundamente, da nossa identidade cultural.
O filme tem uma projeção temporal muito direta e eficiente, pois a história é contada através de uma linha do tempo criada de acordo com os depoimentos dos entrevistados. Isso valoriza o documentário significativamente, pois o diretor Gastão Moreira não tenta manipular seus expectadores com uma edição parcial ou outros recursos (como a narração) que tornariam a obra mais tendenciosa. Mesmo assim, Botinada tende para o lado dos punks, mostrando apenas uma versão da história (nesse caso, a versão deles).
Aliás, um dos aspectos mais interessantes da obra são os depoimentos de todos esses roqueiros punks que abusaram e bagunçaram durante sua juventude e, atualmente, vivem vidas ordinárias e simples. Nesse sentido, Botinada assume uma aura melancólica. Vejam bem, eu não estou desmerecendo os caras; ocorre que todos esses jovens tornaram-se os adultos os quais eles criticavam quando na juventude.
Do ponto de vista cinematográfico, Botinada é um valioso registro histórico sobre o turbulento movimento Punk no Brasil. Vale a pena conferir o que, para mim, é o documentário mais interessante já feito em terras brasileiras...
SOBRE A MÚSICA PUNK:
Honestamente, nunca fui um grande fã da música Punk. E, provavelmente, este foi o maior meio de expressão dessa linha de pensamento iniciada durante a Guerra Fria. Como eu simplesmente adoro falar sobre música, esse anexo serve apenas para satisfazer minha vontade de falar um pouco sobre esse gênero musical.
É ficar na superfície se eu der como exemplo de bandas punk The Clash e Sex Pistols. Todavia, essas foram as bandas que tiveram visibilidade mundial. Ambos os grupos foram os responsáveis por músicas que se tornaram referência no gênero rock. Discos como London Calling tornaram-se verdadeiras obras-primas, sem sombra de dúvida.
Porém, o que mais me intrigou em Botinada foi a quantidade de bandas nacionais do gênero. Eu achei que a coisa se limitava ao Ratos de Porão, contudo estava redondamente enganado; são inúmeras bandas brasileiras que inundaram o cenário musical brasileiro durante as décadas de 70 e 80. Abaixo segue uma lista das músicas que tocam durante o decorrer da obra. Destaque para a primeira, "Oi Tudo Bem?", uma verdadeira jóia musical:
- "Oi Tudo Bem?" (Garotos Podres)
- "Nada" (Olho Seco)
- "Pânico em SP" (Inocentes)
- "Vivo na Cidade" (Cólera)
- "Agressão/Repressão" (Ratos de Porão)
- "Festa Punk" (Os Replicantes)
- "O Punk Rock não Morreu" (Lixomania)
- "Desemprego" (Fogo Cruzado)
- "Restos de Nada" (Restos de Nada)
- "Trabalhadores Brasileiro" (Espermogramix)
- "John Travolta" (AI-5)
- "Bem Vindos ao Novo Mundo" (Condutores de Cadáver)
- "Câncer" (Hino Mortal)
- "Brasil (Desordem e Regresso)" (Rephugos)