Watchmen projetou-se como a minha grande aposta para o ano de 2009 e, após várias tentativas, eu finalmente o conferi, praticamente, um ano após seu lançamento.
Primeiramente, devo dizer que Watchmen foi uma grande decepção para mim. O filme não é, de maneira nenhuma, ruim. Pelo contrário, Watchmen é uma obra estupenda. Estupenda e grandiosa em vários aspectos. No entanto, o resultado fica muito aquém do que era esperado, especialmente quando estamos falando de um material tão comentado, elogiado e premiado como os quadrinhos de Alan Moore e Dave Gibbons.
Não tenho interesse em fazer uma sinopse da história, pois não há como escrever sobre a trama de Watchmen em um parágrafo. E é toda essa complexidade que tornou Watchmen um grande desafio para Hollywood. Dizem que Terry Gillian abandonou o projeto por achar que um longa-metragem de 2 horas não faria jus ao material...
Eis que Zack Snyder, após realizar o regular Madrugada dos Mortos e o ótimo 300, agarrou o projeto e adaptou-o na marra, primando pela extrema fidelidade aos quadrinhos de Alan Moore.
E não são poucos os momentos em que a fidelidade de Snyder beira o inacreditável. Visualmente, Watchmen é sensacional e impecável. Cenários, figurinos, efeitos especiais, som e montagem absolutamente fantásticos, sem exceção. Um exemplo desse primor técnico é a seqüência de créditos iniciais: memorável e interessante.
Contudo, essa busca pela perfeição visual teve um custo alto para a adaptação de Snyder: o roteiro. Não estou me referindo, neste caso, à trama da história, que é muito boa por sinal. Refiro-me ao tratamento dado aos personagens que, em vários momentos, é extremamente raso e ineficiente.
Outra personagem que exemplifica esse fato é a própria Espectral. Veja por exemplo a cena em que ela descobre quem era seu pai por intermédio do Doutor Manhattan: a cena inteira soa tão forçada e canhestra que chega até incomodar.
No entanto, essa artificialidade não atinge todos os personagens da obra: o Comediante (Jeffrey Dean Morgan), Rorschach (Jackie Earle Haley), Ozymandias (Matthew Goode) e Doutor Manhattan (Billy Crudup) são extremamente complexos e suas ações nos fazem refletir muito mais sobre o que está passando na tela. Como ficar indiferente a um "herói" que dá um tiro numa mulher que está grávida de um filho seu? Ou a um herói cuja obsessão por salvar a humanidade ultrapassa as raias da frieza? Ou ainda um herói que mais parece um homicida? De fato, Watchmen decola nos momentos em que esses personagens aparecem no filme.
E os melhores momentos do filme são justamente aqueles em que esses personagens aparecem. Entre as melhores partes, destaco a cena em que mostra o passado do Doutor Manhattan (simplesmente fantástica), o clímax no gelo e TODAS as cenas em que o Comediante aparece.
Aliás, Watchmen é muito melhor em seus momentos de drama e conflitos do que nas cenas de ação. As lutas do filme são muito fraquinhas e a violência surge de uma maneira desproporcional, não condizendo com o clima sóbrio e realista da obra. Para que mostrar um par de braços sendo arrancado por uma serra circular elétrica? Em certos momentos, a violência cai bem (na cena em que Rorschach dá uma "cutelada" na cabeça de um sujeito), porém esses momentos são poucos.
No final da conta, temos um filme incrível e sensacional visualmente. Contudo, esses escorregões da produção contribuem decisivamente para um resultado que beira o regular. Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma obra interessante e bacana. Contudo, tinha potencial de sobra para se tornar um verdadeiro clássico, assim como a obra original. Se você não assistiu, faça-o, pois você estará diante de um dos filmes baseados em histórias em quadrinhos mais inteligentes e realistas que o cinema já produziu.
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