domingo, 26 de fevereiro de 2023

Richard Belzer é uma das caras da Nova York da qual insisto em sonhar



Foi com grande pesar que fiquei sabendo do falecimento do magnético Richard Belzer. Não foi um grande astro do cinema, mas certamente fez história na televisão norte americana ao encarnar o detetive John Munch que apareceu em nada menos do que 11 diferentes seriados, em alguns momentos aparecendo em três TV shows ao mesmo tempo!

John Munch era aquele policial irônico e cheio de malícia, um cínico de primeira linha, mas com um coração, lá no fundo. Na série Law And Order: Special Victims Unit ele fazia um excelente contraponto à dupla principal Stabler e Benson, tendo sempre uma espécie de capa que disfarçava seus reais sentimentos.

Talvez pelo tempo em que fez esse papel, Belzer e Munch pareciam se confundir: ambos democratas ferrenhos, conspiracionistas (Belzer publicou uma série de livros sobre teorias da conspiração, de JFK até Ovnis) e com uma fleugma irônica, típica de alguns comediantes mais das antigas. Num momento Belzer/Munch, escreveu um livro sobre um ator chamado Richard Belzer que interpreta um policial na televisão, chamado Munch, que desvenda um crime grotesco - a obra se chama "I Am Not A Cop!".

Há um curioso caso em que durante um talk-show que apresentava, Hulk Hogan aplicou um mata-leão de "brincadeira" nele. Belzer, magrelo como um grilo, mal resistiu ao golpe e desmaiou, batendo a cabeça no chão do cenário. O susto foi rápido, mas rendeu um traumatismo craniano, sutura e um processo contra o wrestler (que não foi pra frente, após um acordo entre as partes).

Me parece que Belzer era uma bela amostra de um tipo de norte americano que não tenho certeza se ainda é "produzido" pelo país. Um típico americano desconfiado, frágil e cínico, levemente presunçoso mas ainda assim magnético. Sem dúvida, fez parte da minha infância e do meu imaginário. Felizmente, tenho muitos trabalhos dele para conhecer - provavelmente a maior dádiva de ser um artista. 

Homem Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania, 2023)


Dois parágrafos para entender meus sentimentos em relação a este filme:

A primeira delas é de que foi uma experiência boa: cinema vazio, filme legendado, entretenimento competente durante a duração do filme que me fez esquecer completamente as preocupações do "mundo lá fora". É um universo alienígena muito inspirado em Star Wars (com direito até uma cantina à la Uma Nova Esperança), diga-se de passagem.  As piadas funcionam razoavelmente bem (sem aquela overdose de gracinhas) e, lá pelo meio da trama, temos o resgate do elemento mais charmoso dessa trilogia - há algo como um roubo a ser executado.

Entretanto, o filme conta com uma grande dose de desleixo visual, especialmente o 3d vagabundo que serve apenas para aumentar (e muito) o valor do ingresso. A trama é boba e se prende demais na ideia de que um novo e perigoso vilão está surgindo no universo da Marvel - um bom vilão, com interessante interpretação, contudo prejudicada por uma nuvem de expectativa dos produtores. Este, aliás, é o principal problema desta obra e de grande parte dos últimos filmes de heróis da Casa das Ideias, essa necessidade de ligar pontos e criar pontes entre obras futuras e passadas, tornando acompanhar esses filmes um tanto quanto exaustivo e infantil (num sentido ruim). 

No final das contas, acredito que o terceiro filme do Homem Formiga é divertido, especialmente se considerado como uma aventura solo, buscando-se esquecer do "aspecto multiverso" desses filmes. Ainda queremos entrar numa sala de cinema e apenas nos divertirmos por pouco mais de duas horas, sem amarras com o mundo exterior. Será que a Marvel ainda consegue fazer algo assim?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Trailer: Sisu (2023)


Eu não tenho a maior das familiaridades com o cinema da Finlândia, mas não posso deixar de destacar este incrível trailer sobre um homem que encontra uma determinada quantidade de ouro durante um garimpo e resolve trocá-lo na cidade grande. Contudo, no caminho temos a Finlândia invadida por nazistas que, naturalmente, serão um obstáculo para seu objetivo. E o trailer sucede como uma espécie de "John Wick" do velho oeste nórdico, cheio de violência e exageros, no melhor sentido que essa palavra pode reservar. Torço muito para que o filme não caia nas armadilhas das moderninhas e insossas homenagens exploitation, mais visuais do que qualquer outra coisa, deixando de lado a trama. Pelo trailer, pode ser que este filme seja a resposta para isso.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Midnight Express #010 - Dc Comics, Netflix e Cinema

O Esquadrão Suicida (2021)

Quando você para pra pensar sobre o quão problemático vem sendo o caminho da DC Comics no estabelecimento de um universo cinematográfico, é impossível não admirar ainda mais o trabalho de James Gunn restabelecendo uma interessante ideia que fora completamente destruída em 2016 (um raríssimo caso de filme que eu achei tão insuportável que não consegui terminar). O Esquadrão Suicida de 2021 é um blockbuster impecável: divertido, surpreendente e cuja duração passa voando. A escolha do elenco é um primor, com Idris Elba finalmente divertido num papel principal, John Cena extraordinário como um louco que não parece louco, Margot Robbie fazendo sentido como Arlequina, além das presenças luxuosas de Viola Davis, Sylvester Stallone, Michael Rooker, Joel Kinnaman, David Dastmalchian (roubando cena) e Peter Capaldi. A trama é redondinha, fechada como um arco de missão e o vilão, completamente estapafúrdio, funciona que é uma beleza.

Com os recentes anúncios do controle criativo da DC Comics nas mãos do James Gunn, afirmo publicamente que confio plenamente no que o homem vai realizar. Quem viver verá!

Athena (2022)

Romain Gravas realiza um espetáculo visual realmente impressionante sobre um gueto parisiense se revoltando após o assassinato injustificado de um jovem cometido por policiais. O nível de tensão é inacreditável e o filme pisa no acelerador o tempo inteiro, deixando-nos completamente chocados e encantados, cortesia de uma fotografia realmente primorosa (a qual poderia, aliás, ter sido mais reconhecida na temporada de premiações). As atuações são ótimas e recomendo que se assista os diversos making of disponíveis no Netflix. Uma pena que Gravas aponta a explicação do filme no caminho mais óbvio possível, tirando toda aquela incômoda sensação de que todo o caos do filme talvez não fosse completamente justificável. Apesar disso, um grande espetáculo visual.

 Noite Infeliz (2022)

Primeiramente, sou grato por ter assistido este filme numa sala de cinema da minha cidade, cada vez mais especializada em ostracizar o público mais adulto que gosta de filmes legendados. Infelizmente, entretanto, não consegui gostar muito deste filme que até tem uma ideia interessante, mas esbarra em algo muito pessoal para este antipático blogueiro: eu sou apaixonado pelo Natal e me transtorna ver o símbolo máximo dessa época urinando do alto de seu trenó. Apesar da minha "sensibilidade", reconheço que o filme tem uma boa ideia, boas sacadas de ação (apesar da fotografia escura, para esconder alguns problemas técnicos, me aborrecer na maior parte do tempo) e algumas cenas de violência profundamente criativas.

 

Babilônia (2022)

Um interessante caso de um filme cujo título sintetiza exatamente tudo aquilo que a obra parece querer representar: Babilônia é um filme mastodôntico (em seu tempo de duração e elementos de tela), exagerado, profano, deslumbrante e cansativo. Minha visão é de que este filme poderia ser muito melhor caso houvesse maior rigor na sua edição - a trama do musicista, por exemplo, é absurdamente deslocada de todo resto e, apesar de interessante por si só, poderia ser limada. O elenco se esforça na loucura toda, mas confesso que a palavra que mais me vem a mente quando paro para pensar sobre esse filme é "inchado". A primeira hora do filme é hipnótica, mas o desenrolar de tudo realmente deixa a desejar. Fica a sensação de que, no final das contas, foi como um mergulho num abismo com seu pobre diretor sendo sugado pelo mesmo. 

 

You People (2023)

É inacreditável como o maior atrativo deste filme (Eddie Murphy) é o ponto mais problemático desta "comédia". Sim, muitas aspas nesta definição, pois para mim este filme não consegue ser uma comédia, de maneira alguma. Trata-se de uma versão "millenial" do filme A Família da Noiva, sobre um casal interracial que enfrenta a inadequação dos seus familiares. São questões que eu até entendo como bastante nevrálgicas na sociedade norte americana, mas o tom sério do personagem do Murphy dá a tônica de desconforto ao longo da obra. Jonah Hill, aliás, está ótimo no papel, mas também não funciona como engrenagem cômica. Um filme estranho e desagradável.