Na lista de “ame-o ou deixe-o” de 2014, Snowpiercer é uma
obra de ficção distópica, baseada em uma história em quadrinhos (Le
Transperceneige), com uma sinopse matadora: no futuro, nosso planeta está
assolado por uma nova era glacial e os últimos habitantes da Terra se encontram
numa locomotiva, em movimento perpétuo, sendo que os últimos vagões abrigam os
menos favorecidos em condições desumanas – como que em castas. E para os
habitantes do fundo do trem, o maior objetivo é chegar a frente do trem, para
tomar seu controle e desfrutarem de condições mais justas como os passageiros
da dianteira.
Apesar da demora em seu lançamento e diversos boatos
sobre brigas entre estúdio e produtor (desmentidas pelo diretor em entrevistas
como essa), SNOWPIERCER sofre bastante com seu ritmo irregular. A primeira hora
de filme é espetacular, me deixou maluco. Porém, o decorrer da projeção foi me
causando muito desinteresse e, quando percebi, o final do filme foi tão
entediante e esquecível...
A escolha do elenco foi soberba – Chris Evans, Tilda Swinton, John Hurt, Jamie Bell, Ed Harris e o espetacular Kang-ho Song – todos
excelentes em seus papeis, cativantes, apesar de representarem uns arquétipos
típicos de filmes de sobrevivência e resistência: o líder que não quer ser
líder (Evans), seu meio que afobado braço direito (Bell), o sábio da
resistência (Hurt), o misterioso que não sabemos se podemos confiar (Song) e
por aí vai...
O que mais gosto na primeira hora de SNOWPIERCER é a
estranheza e choque que o diretor Joon-ho Bong expressa em suas cenas. Existe
um quê de alegoria, tipo um circo bizarro que nos encanta, provoca risos e nos
choca ao mesmo tempo. Esses sentimentos são despertados principalmente no
início do filme, quando conhecemos o trem, suas condições desumanas para os
passageiros da traseira, punições àqueles que se revoltam de maneira óbvia em
relação as condições do trem... Enquanto assistia, me peguei encantado com esse
universo distópico já representado na história do entretenimento, porém nunca
dessa maneira.
Considerei, afinal, um filme interessante, de extremo
potencial e acima da média, apesar do desapontamento com o epílogo (quando
justificativas demais são dadas e algumas mortes são absolutamente banalizadas,
o que me tirou da aura de estranheza e me levou para a aura de julgamento em
relação a inverossimilhança de momentos do roteiro – cheio de furos notáveis,
quando você para pra pensar). Mesmo assim, o entretenimento funciona muito bem
e SNOWPIERCER merece ser descoberto pelo público em geral. Quem sabe eu não
me anime com uma versão do diretor?