Difícil escapar do clichê quando se pretende falar sobre um filme tão cultuado e analisado como Apocalypse Now. Provavelmente, o exemplar mais delirante sobre o horror da guerra, a obra de Francis Ford Coppola tornou-se uma lenda no mundo cinematográfico pelas dificuldades enfrentadas durante sua produção. Orçamento estourado, prazos desrespeitados, problemas com os atores (o famoso descaso de Marlon Brando com a obra) e inúmeros reveses pontuaram o filme, de tal maneira que estes foram refletidos para o filme, tornando Apocalypse Now num filme exaustivo e, em alguns momentos, genial.
Trata-se de um filme carregado, por vezes incompreensível e alucinado. Não há como negar: a obra é, de fato, um clássico. Entretanto, Apocalypse Now justifica um bordão famoso de maneira adequada: às vezes, menos é mais...
Apocalipse reflete perfeitamente a geração dos anos 70, a energia, ainda latente, dos movimentos estudantis contra a guerra, aliada ao auge do consumo de drogas lisérgicas, vindas dos anos 60.
Existe uma mensagem muito clara em Apocalipse Now, mas esta chega de maneira simbólica e, por vezes, incompreensível. Como explicar, por exemplo, o epílogo, quando Willard (Martin Sheen) finalmente encontra o coronel Kurtz (Brando), numa espécie de reino encravado na floresta – esta parte da obra soa, inicialmente, deslocada e estranha. Mas por se tratar de uma guerra tão sem sentido, como foi o Vietnã, é natural que uma loucura como esta desfile pela tela.
E é interessante ver como Apocalipse Now constrói e desconstrói o gênero de guerra neste filme. Impossível esquecer o ataque de helicópteros ao som da Cavalgada das Valquírias, uma das cenas mais marcantes da história do cinema; ela mostra a face óbvia deste filme, a guerra e sua grandiosidade/destruição. E boa parte do filme foca suas lentes sobre as pessoas que participam da batalha: jovens tolos, loucos, homens medrosos e pessoas que perderam sua fé na própria vida (que é o caso do capitão Willard). Pensava-se que guerras eram feitas com homens bravos, mas como sustentar esta tese após a cena em que um barco de civis é metralhado por soldados americanos...
E é por momentos de intensa análise emocional como este que considerei Apocalipse Now um grande filme, um marco. E o filme segue bem até o seu final. O fim da busca de Willard por Kurtz representa o ápice da incompreensão ante esta guerra. Kurtz é considerado um lunático pelos oficiais americanos, mas estes não seriam loucos também por aceitarem o sacrifício de vidas numa luta sem sentido?
Falando nos aspectos mais óbvios do filme, o clímax marca a decepção de minha parte quanto a presença de Marlon Brando, que soa deslocada e desleixada. Uma atuação, francamente, medíocre, considerando a carreira deste grande astro.
Assim, Apocalipse Now projeta-se como uma das obras mais poderosas já criadas por um diretor. Contudo, ela poderia ser um pouco mais acessível, para nós, seres mortais, que muitas vezes só querem assistir algo que possamos compreender. Mas, pensando bem, como entendermos algo tão atroz e vergonhoso como a Guerra do Vietnã? Não tem explicação...
Nessa época o Marlon Brando não tava nem aí com nada: chegou 40kg mais gordo do que o Coppola esperava, sem ter lido uma linha do roteiro, e nem do livro-base pro filme. Pra mim esse filme é mais um espelho não dos Eua, mas sim do próprio Coppola, que exagerou, fez muitas cagadas, e comeu o pão que o diabo amassou por seus excessos.
ResponderExcluirIsso é verdade. Coppola estav com um ego gigantesco quando foi filmar Apocalipse. Acabou nos brindando com um filme de potencial enorme que, quando chega na hora do "vamos ver" acaba decepcionando...
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