Eu fiquei muito surpreso ao final da sessão de MR JONES, mais recente filme da diretora polonesa Agniezka Holland. Confesso, aliás, que eu nem sabia que o filme era dela quando decidimos (eu e minha irmã) encarar mais uma sessão da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com o início dos créditos, me surpreendi com o nome dela encabeçando a obra e fiquei pensando a respeito disso.
O motivo dessa consternação é que eu achei MR JONES um filme convencional demais. Mesmo não levando em conta que sua exibição tenha sido durante um festival de cinema, a impressão que eu tive é de que este era um filme tão discreto e acadêmico que, num passado não tão distante, poderia ter conferido à tarde no Eurochannel (aquele saudoso canal de TV por assinatura que nem sei se existe mais). Desde o elenco montado até suas escolhas narrativas/visuais (como a cena de transição que mostra uma locomotiva em movimento, com edição e trilha sonora frenética), tudo parece protocolar demais, escolhas de alguém inseguro ainda em seu ofício.
Acompanhamos a história real do jornalista galês Gareth Jones (em eficiente interpretação de James Norton) que resolve investigar o alardeado progresso da URSS sob o comando de Stálin e acaba testemunhando a grande fome que assolou, especialmente a Ucrânia, em detrimento das convicções políticas e estratégicas do ditador mais assassino de todos os tempos. É um episódio histórico interessantíssimo e merece ser contado em celuloide.
A presença de Peter Sarsgaard é sempre um acréscimo a qualquer filme, pois o considero um grande ator subestimado. Em MR JONES, ele interpreta o dúbio jornalista Walter Duranty, consagrado com o Pulitzer na época, mas que decidiu ignorar e até encobrir os crimes de Stálin, os quais ele supostamente tinha conhecimento. Apesar de parecer ter sido escrito de uma forma um tanto quanto maniqueísta, Sarsgaard consegue dar alguma densidade a esse personagem complexo (com exceção de uma presepada no final do filme, quase cartunesca, envolvendo ele e a personagem da atriz Vanessa Kirby).
Minhas observações com este filme é que, no final das contas, parece muito um filme feito para ser exibido em salas de aula. As cenas em que Gareth testemunha a desumanidade geral que nos assola em situações extremas são mais teoricamente do que visualmente impactantes. E a própria maneira como o filme se desenrola é tão protocolar e previsível que a identificação de qualquer estilo cinematográfico fica complicada. Eu adoro telefilmes, mas a impressão de que assisti um telefilme num festival de cinema foi forte demais.
Naturalmente, o filme ganha pontos a seu favor por lançar luz em mais uma prova da ação diabólica da "experiência comunista" durante o século XX e me parece coerente e muito natural uma diretora polonesa nos guiar a respeito de tal episódio histórico, tal como seu conterrâneo Andrzej Wajda. Contudo, senti que sobrou contexto e faltou narrativa cinematográfica. Ainda assim, vale como um eficiente filme sobre um tenebroso período histórico.
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