segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Mr Jones (2019)


Eu fiquei muito surpreso ao final da sessão de MR JONES, mais recente filme da diretora polonesa Agniezka Holland. Confesso, aliás, que eu nem sabia que o filme era dela quando decidimos (eu e minha irmã) encarar mais uma sessão da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Com o início dos créditos, me surpreendi com o nome dela encabeçando a obra e fiquei pensando a respeito disso.

O motivo dessa consternação é que eu achei MR JONES um filme convencional demais. Mesmo não levando em conta que sua exibição tenha sido durante um festival de cinema, a impressão que eu tive é de que este era um filme tão discreto e acadêmico que, num passado não tão distante, poderia ter conferido à tarde no Eurochannel (aquele saudoso canal de TV por assinatura que nem sei se existe mais). Desde o elenco montado até suas escolhas narrativas/visuais (como a cena de transição que mostra uma locomotiva em movimento, com edição e trilha sonora frenética), tudo parece protocolar demais, escolhas de alguém inseguro ainda em seu ofício.

Acompanhamos a história real do jornalista galês Gareth Jones (em eficiente interpretação de James Norton) que resolve investigar o alardeado progresso da URSS sob o comando de Stálin e acaba testemunhando a grande fome que assolou, especialmente a Ucrânia, em detrimento das convicções políticas e estratégicas do ditador mais assassino de todos os tempos. É um episódio histórico interessantíssimo e merece ser contado em celuloide.

A presença de Peter Sarsgaard é sempre um acréscimo a qualquer filme, pois o considero um grande ator subestimado. Em MR JONES, ele interpreta o dúbio jornalista Walter Duranty, consagrado com o Pulitzer na época, mas que decidiu ignorar e até encobrir os crimes de Stálin, os quais ele supostamente tinha conhecimento. Apesar de parecer ter sido escrito de uma forma um tanto quanto maniqueísta, Sarsgaard consegue dar alguma densidade a esse personagem complexo (com exceção de uma presepada no final do filme, quase cartunesca, envolvendo ele e a personagem da atriz Vanessa Kirby). 

Minhas observações com este filme é que, no final das contas, parece muito um filme feito para ser exibido em salas de aula. As cenas em que Gareth testemunha a desumanidade geral que nos assola em situações extremas são mais teoricamente do que visualmente impactantes. E a própria maneira como o filme se desenrola é tão protocolar e previsível que a identificação de qualquer estilo cinematográfico fica complicada. Eu adoro telefilmes, mas a impressão de que assisti um telefilme num festival de cinema foi forte demais. 

Naturalmente, o filme ganha pontos a seu favor por lançar luz em mais uma prova da ação diabólica da "experiência comunista" durante o século XX e me parece coerente e muito natural uma diretora polonesa nos guiar a respeito de tal episódio histórico, tal como seu conterrâneo Andrzej Wajda. Contudo, senti que sobrou contexto e faltou narrativa cinematográfica. Ainda assim, vale como um eficiente filme sobre um tenebroso período histórico.

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