sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

MyFrenchFilmFestival 2017

Galera, todo começo de ano já é uma tradição nesta casa o MyFrenchFilmFestival - festival de cinema online, gratuito, com saborosas produções em língua francesa (para ser mais exato - 28, dentre longas, curtas e animações), em streaming do dia 13 de janeiro ao dia 13 de fevereiro. Trata-se da sétima edição do evento, uma iniciativa simplesmente maravilhosa e que nós, cinéfilos, não podemos ignorar. Ano passado, eu prometi uma cobertura do festival, mas acabei não cumprindo a promessa - cheguei a assistir quase todas as obras, mas falhei na escrita de textos; vamos ver se consigo fazer diferente neste ano. Independente disso, o convite fica de pé e, sem sombra de dúvida, vou aproveitar essa celebração da língua francesa e da sétima arte! Clique neste link para mais informações e a realização de um cadastro rápido para desfrutarem as obras.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Duas "Lo-Fi Science Fictions": Passageiros e A Chegada


Há alguns anos eu li um artigo interessante no site Taste Of Cinema sobre a ascenção de um novo gênero - a "lo-fi science fiction" ou ficção científica lo-fi. Para quem não sabe, lo-fi vem de low definition, um termo tirado da indústria da música para aquelas gravações de baixa qualidade, com suas distorções e ruídos. 

Na contramão de blockbusters descerebrados, sem muitos atrativos além dos efeitos especiais e visuais, estas ficções científicas são filmes recheados de filosofia, drama, diálogos morais e profundidade. Aliados ao seu conteúdo está o pano de fundo da ficção científica - uma situação, um planeta, uma nave, uma máquina e quase sempre o futuro próximo. 

Muitos dos filmes desse emergente subgênero ainda não são conhecidos do grande público, mas já possuem alguma notoriedade cult como Lunar, Computer Chess, Another Earth e  Primer. Talvez, o filme mais famoso que poderíamos encaixar nesta categoria de ficção científica é o interessante Ela (Her, 2013), que chegou a faturar um Oscar de roteiro. 

Independente de classificações e subgêneros, é fato que o cinema vem apresentando alguns exemplares cada vez mais interessantes dentro da ficção científica. Logicamente que filmes do gênero recheado de subtextos e interpretações já existiam por aí - um episódio de Jornada nas Estrelas, lá nos anos 60, nunca era apenas sobre uma tripulação de uma nave estelar.  O que diferencia esses exemplares atuais é que, quase sempre, o aspecto fantástico em segundo plano, é um mero contexto para a história que quer ser contada. 

Quero falar de dois filmes recentes que eu enxergo como bons exemplos dessa guinada narrativa: a obra Passageiros e  A Chegada.

Passageiros (Passengers, 2016) é o mais novo filme de Jennifer Lawrence e Chris Pratt, com uma premissa muito intrigante. Imagine um futuro onde uma empresa controla o translado da Terra para outros planetas onde são montadas colônias com humanos, em condições favoráveis e a oportunidade de um "novo começo" para quem se dispuser a pagar o preço. A viagem, contudo, dura mais de uma centena de anos, sendo necessários que os passageiros hibernem durante esse período. Entretanto, um desses passaageiros desperta 90 anos antes de chegarem ao novo planeta. 

O filme flerta com várias tramas clássicas da ficção científica como o isolamento do espaço, a falta de emoções em andróides perfeitos e os perigos de uma viagem espacial. Mas todas essas tramas são meros contextos para um filme de romance - algo que foi muito bem vendido pelo trailer. 

Temos um visual realmente incrível e o design da nave é sensacional. O filme tem seus momentos de tensão e ação, mas nada disso ofusca a trama principal - o romance dos protagonistas. Pessoalmente, achei o filme meio morno, do tipo que não leva a lugar algum, mas ainda assim um entretenimento razoável. 

Já o filme A Chegada (Arrival, 2016) é um sólido drama num contexto já muito explorado no mundo do cinema - a chegada de alienígenas em nosso planeta. Dentro do caos e do pânico desta situação extraordinária, nós acompanhamos a linguista Louisie Banks (Amy Adams), recrutada pelo governo para tentar estabelecer algum contato com estes estranhos seres. 

O diretor Dennis Villeneuve realizou uma obra realmente profunda, principalmente por conseguir mostrar não apenas o caos mundial/geopolítico, como o drama da personagem principal, intimamente ligado por tudo aquilo pelo qual ela está passando.  Quase tudo que Villeneuve e o roteirista Eric Heisserer projetam na tela tem um objetivo e serve como fundação para a construção de uma poderosa mensagem sobre a importância da comunicação e como o tempo pode ser encarado como uma dimensão fora da nossa compreensão. 

A Chegada é um filme denso e tão metaforicamente rico que pode produzir um nó na cabeça de quem queria uma simples ficção científica para passar a tarde. Não é de maneira alguma um filme perfeito, mas com certeza é uma sessão reflexiva só providenciada pelas obras mais diferenciadas que são lançadas nos cinemas.