sábado, 16 de julho de 2016

Supermarkt (1974)


Um dos ambientes ou atmosferas que mais me fascinam é a Alemanha da Guerra Fria - suas cidades cinzas, decadentes, cheia de fumaça de cigarros, prostitutas e música, parecendo um prelúdio para histórias cyberpunks. Um misto de decadência e perigo, é a essência de uma mentalidade punk/industrial/urbano - que certas obras da ficção conseguem representar muito bem.

SUPERMARKT acompanha Willi (o não-ator Charly Wierczejewski), um problemático jovem das ruas, que sobrevive com pequenos delitos, fugindo da polícia, se envolvendo com bandidos e prostituição. E sua jornada de sobrevivência nas hostis ruas de Hamburgo, nos anos 70, é marcada de desilusão, violência e melancolia. 


Inserido nesse contexto social, SUPERMARKT é uma obra do praticamente desconhecido Roland Klick, diretor alemão cultuado na Europa, mas praticamente desconhecido por essas bandas. Dono de uma filmografia intrigante (pretendo me aprofundar em seus filmes, ao longo do ano), Klick ficou conhecido por ter sido o primeiro pretendido na direção do cultuado Christiane F, mas acabou sendo demitido pelo produtor Bernd Eichinger. 

É interessante que SUPERMARKT guarda muitas semelhanças com o best-seller Christiane F: a atmosfera carregada, a melancolia, a trama de jovens desencaminhados - como eu cheguei a ler numa resenha do excelente blog Soiled Sinema, "uma espécie de irmão mais novo e não junkie".


Uma das coisas que mais gosto em SUPERMARKT é a fotografia do filme. É uma obra escura, com seus cenários absolutamente decadentes - em algumas cenas mal conseguimos distinguir as feições do protagonista. E algumas cenas de ação reservam uma urgência típica dos policiais dos anos 70, como a fuga do protagonista da delegacia de polícia e o roubo no estacionamento do supermercado, próximo ao final da película. O lado artístico do diretor se sobressai nessas tomadas, assim como a última cena do filme, muito bela, fugindo de explicações óbvias que assolam o cinema atual. 

Ancorado pela música "Celebration", de Marius West - uma balada folk bem bonita, SUPERMARKT é o típico cinema quase impossível de se encontrar nos filmes atuais. A música guarda um otimismo quase juvenil, presente em nosso personagem principal, que primeiramente poderia destoar, mas depois se encaixa na opressiva e cinzenta realidade da história. A distribuidora do filme, em dvd, na Europa, classificou SUPERMARKT como uma mistura de Operação França com Juventude Transviada e, honestamente, eu não teria como classificar melhor essa pérola desconhecida do cinema alemão. 

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