Não há maneira de entregar mais sobre a sinopse da obra
sem estragar as surpresas que seu belo roteiro nos reserva. Esqueça a preguiça
que assola praticamente todas as fitas de horror da atualidade – com seus
típicos personagens arquétipos e desenrolar previsível. La Noche Del Terror
Ciego reserva um dos finais mais incríveis e impressionantes que eu já assisti,
absolutamente tenso e aterrador – na linha de Zombie, clássico do mestre
italiano Lucio Fulci.
Além de seu incrível roteiro, como esquecer da direção
fantástica de Amando de Ossorio, que filmou algumas das cenas mais marcantes do
cinema de terror em todos os tempos. A imagem dos zumbis templários em seus
cavalos atrás de uma pobre moça numa bela planície, sem dúvida é um dos grandes
momentos cinematográficos já proporcionados pelo cinema de horror. Sem
mencionar na incrível tensão proporcionada durante a aparição dos famigerados
zumbis, especialmente durante o desfecho avassalador.
Outra cena incrível é a realização do ritual em que os
templários supostamente alcançam a eternidade. Sem se tornar alegórico demais,
Ossorio construiu uma incômoda imagem de um rito satânico, ao contrário do
espírito carnavalesco que predomina visualmente nas obras atuais que emulam o
tema. É claramente um filme barato, que supera com elegância possíveis
obstáculos em relação ao orçamento.
Um dos recursos mais eficientes na filmagem de Ossorio é
a utilização de uma dramática câmera lente, que intensifica estupendamente o
drama da cena, aliado a um efeito sonoro incrível, uma espécie de cântico
gregoriano infernal, cortesia de Anton Garcia. A própria trilha sonora do filme
é fantástica, com seus temas incidentais cheios de ecos, me lembrando demais a
brilhante trilha sonora do filme O Nome Da Rosa, produzido quase 15 anos após
este.
As atuações são eficientes, mas o que mais me chamou a
atenção foi como as personagens são densas, porém construídas de uma maneira
que não se destacam - ainda mais se considerarmos os zumbis templários.
Entretanto, os personagens são suficientemente densos para provocarem empatia e
criarem um vínculo com o público.
Definitivamente, não tenho pressa em conhecer os vários
clássicos que o cinema de horror tem para me apresentar. Para qualquer fã deste
gênero, visualizar este filme é essencial e obrigatório, principalmente para
quem quiser entender e compreender o fascínio que o mesmo exerce em pessoas
como eu e tantos outros cinéfilos e cineastas por aí.
OBS: Esta é uma postagem relacionada às tristes perdas do cinema espanhol durante esta semana - Jesus Franco e Bigas Luna. Ambos cineastas são autores de filmes muito especiais para mim, que me influenciam e me inspiram de várias maneiras. Não há nenhuma obra dos dois comentada no Midnight Drive-In, mas há tempo para reparar esse lapso. Se você não conhece nenhum dos dois autores e compactua, minimamente, com minhas opiniões, assista a alguns dos filmes deles. Foi uma triste semana para o cinema espanhol e mundial. Perdemos esses mestres, mas esperamos que muitos novos grandes cineastas espanhois continuem a enriquecer o mundo do cinema.
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