Existe algo de extraordinário em FALCÕES DA NOITE - uma produção bastante problemática, com brigas entre atores, troca de diretores, um corte inicial de duas horas e meia e intromissões do estúdio - um dos grandes filmes policiais dos anos 80, apesar de não ser tão lembrado nos dias atuais. Como tantas dificuldades conseguiram render um filmaço desses?
Minha primeira observação é de que estamos diante de um filme de fato. O que quero dizer com isto é que a trama é relativamente simples, mas aproveita muito bem a linguagem cinematográfica - as lindas tomadas noturnas e externas de New York nos anos 80, com direito a sujeira, violência e o neon da época; a espetacular perseguição à pé pelo metrô, de tirar o folego, com um inimigo que transpira periculosidade; a trilha sonora urbana, sensual e chique, o figurino e os cortes de cabelos - tudo funciona em NIGHTHAWKS.
Mesmo sem saber da quantidade de cenas que foram cortadas (é possível encontrar muita discussão a respeito na internet. O mais recente lançamento do filme, em blu-ray pela Shout Factories, trouxe vários documentários novos com diversos membros da produção, mas o mesmo corte final da obra), dá para perceber que muita coisa foi tirada do filme. Isso não atrapalha a obra, de maneira alguma, porém fiquei muito curioso em assistir essa versão Uncut do filme, com mais desenvolvimento dos personagens e mais violência.
Os cortes no filme dão um ar ainda mais seco ao filme, sem tempo para firulas narrativas. A grandeza do elenco evita que os personagens se percam como incompletos, pois as atuações são todas precisas. A começar por Sylvester Stallone, com um visual muito marcante, dando vida ao detetive Deke DaSilva, um detetive da polícia nas noites de Nova Iorque, junto com seu parceiro Matthew Fox (interpretado por Billy Dee Willians). FALCÕES DA NOITE, aliás, era o nome dado a esses patrulheiros noturnos de Manhattan. Não há tanto tempo de cena com os dois juntos, mas é possível perceber a química entre os dois e os conflitos/demônios internos de cada um, como na cena em que Fox quase explode a cabeça de um bandido na frente de um garoto ou DaSilva hesitando em atirar no vilão do filme, na emblemática perseguição pelo metrô.
O que dizer então de Rutger Hauer? O saudoso holandês encarou o primeiro papel da carreira num filme norte americano com muita força, antagonizando Stallone dentro e fora das telas, segundo as lendas da produção. Seu terrorista freelancer Wulfgar é um vilão aterrorizante, por ser lunático, mas não idiota ou simplesmente maléfico - é o oposto de DaSilva: convicto, resoluto, charmoso e não leva desaforo para casa. Na atuação magnífica de Rutger Hauer, sempre com aquela aptidão de atuar com os olhos, passando do sedutor para o mortífero em segundos, Wulfgar é um macho alfa e DaSilva só consegue vencê-lo quando finalmente assume a posição de alfa (mesmo que, ironicamente, ele o faça vestido de mulher).
Essas sutilezas psicológicas dos personagens e do filme, realmente impressionam. Ao mesmo tempo, difícil não lamentar a ausência de mais cenas explorando a distância entre esses dois personagens. As atrizes Lindsay Wagner e a indiana Persis Khambatta, mesmo com excelente presença de cena, acabaram prejudicadas com estes cortes, que certamente davam ainda mais profundidade a esses personagens.
NIGHTHAWKS é um verdadeiro clássico esquecido dos anos 80, meus amigos. Não só pelas suas qualidades cinematográficas, como pelas lendas e dificuldades dos bastidores, uma joia dos filmes policiais. Stallone e Hauer estão inesquecíveis em seus papeis, figurando tranquilamente entre os melhores de suas respectivas carreiras e um dos melhores filmes desta incrível e saudosa década.
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