Era
o ano de 2008 quando o filme Crepúsculo tomou as salas de cinema e
os adolescentes se apaixonaram, tanto pelos protagonistas - Robert
Pattinson e Kristen Stewart. A história foi uma febre, ilustrando
inúmeras capas de revistas, materiais escolares. Pelo menos uma vez
por semana você poderia ver alguma menina da sua escola andando com
o livro debaixo do braço, na hora do intervalo.
Nessa
época, eu tinha 16 anos de idade e ainda era um moleque. Eu fui um
desses garotos meio bobocas, inocentes, virgem, cheio de amigos
meninos muito parecidos, levemente excluído dos grupos das pessoas
mais descoladas – um nerd, apaixonado por filmes e jogos. A paixão
por música começava a florescer.
Estudei
durante minha adolescência numa escola militar, que para meus
padrões, era um lugar absolutamente rígido e de pouquíssimas
concessões. Teoricamente, uma das muitas proibições da escola era
o namoro, cláusula que sempre coloquei como motivo para meus
fracassos e amores não correspondidos (mesmo sabendo que, na
realidade, a culpa disso recaía sobre minhas atitudes, ou melhor, a
falta delas).
Talvez
eu seja muito rígido com meu eu do passado, entretanto eu juro que
fiz as pazes com essa apatia que povoou minhas escolhas e meus medos
da juventude. Afinal, arrependimentos costumam ser inúteis,
especialmente quando há uma tendência de se repetirem erros e
atitudes de outrora. É claro que nós nos adaptamos e mudamos,
levando em conta que a insistência nos equívocos pode e deve ser
analisada sob a perspectiva de um analista, porque tais repetições
são descabidas, convenhamos.
Nesse
rio inglório do passado, porém, fiz algumas boas escolhas e tomei
algumas atitudes que me enchem de orgulho. E uma dessas atitudes
envolve justamente o filme alvo deste nosso tópico.
Minha cópia do filme. Até acho os outros filmes da série divertidos, mas o primeiro ainda é o favorito |
Os
professores organizaram um passeio com os alunos para uma ida ao
cinema durante uma nublada manhã de quarta feira. Nessa época,
tínhamos apenas dois cinemas funcionando em Campo Grande: um
Cinemark (no outrora único shopping da cidade) e o saudoso Cine
Cultura – duas salas com filmes europeus e alternativos, que
acabou não resistindo por muito tempo (mencionado numa das primeiras
postagens deste blog). A turma iria, logicamente, no multiplex, onde
poderíamos escolher dentre dois filmes: Marley e Eu ou Crepúsculo.
Duas
filas se formaram; meus amigos se encaminharam para o drama canino;
eu fiquei olhando os dois pôsteres, ainda indeciso; alguns colegas
começaram a me perguntar “Você não vem?”; voltei a encarar os
pôsteres; olhei as filas mais uma vez: meus amigos e praticamente
todos os casais de namorados estavam prontos para Marley e Eu
enquanto a fila para Crepúsculo era majoritariamente de meninas
excitadas para acompanhar o vampiro Edward. Escolhi Crepúsculo.
Alguns
zombaram e meus amigos estranharam, mas eu não falei pra ninguém o
motivo da minha escolha. Tratava-se de algo tão infantil pelos olhos
da maturidade, mas na cabeça de um garoto, fora a cartada de um
mestre. Estava eu ao lado de um monte de meninas histriônicas,
sonhando com seus vampiros encantados. Preferia ali do que do lado de
um monte de casal chorando a morte de um simpático cachorro.
Logicamente
que nada ocorreu durante a sessão, pois afinal ainda era eu que
estava no cinema, um adolescente cabaço que acreditava estar diante
de uma grande vitória moral por ter driblado os outros amigos. Saí
do cinema com cara de vitorioso enquanto os outros saíram com seus
olhos inchados de lágrimas. Dali voltei direto para casa, pois
morava perto do shopping, o que me concedeu mais uma sensação de
vitória, ao tomar meu próprio caminho, diferente da massa.
E
sobre o que era o filme mesmo? Naquela sessão, eu mal prestei
atenção. Mas até hoje, Crepúsculo é um filme que me provoca um
bem-estar imenso quando assisto, uma sensação boa de ter vivido
alguns dramas da juventude que eu sempre tive a impressão de não
ter vivido. No final das contas, eu também fui um adolescente como
os do filme, meio estúpido e bastante imaturo.
Muito
amigo acha bizarro eu gostar deste filme. Felizmente, não tenho
amarras (nem um pingo de amor-próprio, talvez?) para expor isso.
Entretanto, meus caros, não há julgamento algum neste mundo que
supera uma convicção. E, mesmo soando um tanto dramático, eu
afirmo convicto: eu gosto de Crepúsculo!