Na realidade, Martyrs é, para mim, uma espécie de Jogos Mortais melhorado, com uma estória mais interessante e "crível" (com muitas aspas, diga-se de passagem). Aliás, dentro da atual linha de filmes de terror gráficos, recheados de mutilações e tortura, Martyrs é o melhor exemplar mesmo. Só que isso não significa muita coisa, convenhamos...
Existem as cenas pesadas, é claro. Posso dizer, por exemplo, que o começo do filme, quando as duas irmãs chegam na casa de uma determinada família, é espetacular, com muita ousadia do diretor Pascal Laugier. A película vai se mantendo interessante até a metade da fita, quando a tortura começa a rolar solta e a trama tenta se segurar com uma justificativa tão absurda quanto a pseudo-filosofia do moribundo Jigsaw – que tortura pessoas para elas aprenderem a valorizar a vida delas. É uma motivação bastante sem graça, apesar de ter uma mórbida lógica.
E Martyrs caminha para um final extremamente previsível, que eu vejo como o único possível para a obra mesmo. É tão brusco que se você pensar na primeira cena e na última, parece que são dois filmes completamente diferentes. Martyrs divide-se exatamente desta forma: um início arrebatador, terror psicológico dos bons, violência assustadora; a segunda parte é mais violenta, cheia de absurdos explicados por uma motivação maluca. São partes tão díspares que prejudicaram a obra, a meu ver.
Mas é óbvio que para quem gosta de cinema de horror, Martyrs é obrigatório, pois é um exemplar decente com algumas cenas realmente interessantes. Trata-se de um representante digno do atual cinema francês de terror. Além disso, para aqueles que acham que O Albergue ou Jogos Mortais são filmes fortes, sugiro que procure esse Martyrs para ver uma obra que, mesmo com seus erros, é extremamente superior a esses "filmecos" americanos.