Uma dúvida que sempre surgiu, enquanto mantive este blog mais ativo, era como homenagear as personalidades falecidas ao longo do ano. Tivemos meses em que o blog era um verdadeiro obituário - algo que não me interessava, de maneira alguma. Por um breve período, tentei assistir alguma obra da personalidade ausente, como uma forma mais concreta de homenagem, entretanto a quantidade de filmes que eu teria de assistir me sobrecarregaria. De todas as ideias, a que deu mais ou menos certo, foi após a morte do cineasta Sidney Lumet, quando emplaquei alguns filmes de sua incrível filmografia - filmes que há muito queria assistir. E é interessante pensar que foi essa ação calculada para este blog que deu origem a uma admiração pelo trabalho deste diretor, por vezes ignorado nas listas de grandes diretores norte-americanos.
O VEREDICTO é um filme bastante esquecido hoje em dia mas com uma mensagem absurdamente atual, sobre um advogado (Paul Newman em performance impecável) com um caso complicado envolvendo imperícia médica. De um lado temos a família da vítima, tentando obter alguma vantagem de uma tragédia (evitável ou não) e do outro uma instituição médica querendo se livrar de um julgamento polêmico, com a real possibilidade de prejudicar a fama do lugar. Paul Newman é o homem no meio dessas duas forças não opostas, em busca de alguma justiça para a vítima, atualmente incapacitada.
Para quem já viu filmes de advogados e tribunais, não há muitas novidades à primeira vista. Contudo, o roteirista David Mamet, muito habilmente, não torna nenhum dos lados vilões. Afinal, mesmo os golpes baixos dos advogados de defesa (encabeçado pelo ator James Manson, em ótima performance) fazem parte da função a qual eles foram contratados - há profissionalismo e o momento de maior passionalidade é quando o personagem de Manson descobre que Paul Newman irá tentar a sorte num julgamento com difíceis chances de ganhar no terreno jurídico, mas com uma óbvia verdade moral a seu lado.
Eis um dos fatores mais interessantes abordados nesse filme: a defesa da Verdade, essa com letra maiúscula, cuja a maioria das pessoas reconhece, mesmo que seja em seu íntimo e contrário aos seus desejos mais imediatos, é uma obrigação, mesmo que apenas um homem, o solitário personagem de Newman, seja o último bastião da mesma. E defender algo assim é solitário e desesperador, muito diferente do que multidões de jovens acreditam ao se defender uma causa abstrata e obviamente bonita. A diferença que apenas um homem bom pode fazer num universo inteiro de uma vida é algo implacável, belo e, possivelmente, eterno.
Talvez o personagem mais unidimensional seja o preguiçoso juiz nomeado para o caso, uma verdadeira anomalia para alguém cuja posição deveria representar e justificar aquilo que simboliza. O discurso de Newman, ao final da obra, corrobora justamente sobre o valor individual das nossas escolhas, mais fortes que qualquer símbolo ou convenção. Não há nada mais perto da justiça do que nosso senso pessoal de moralidade e honestidade.