Tem uma porção de filmes legais para estrear no festival de Sundance deste ano - os quais provavelmente vão povoar as páginas deste blog durante 2019. Para representar todas essas obras, publico o belo pôster do documentário Memory: The Oringins of Alien, com a proposta de retratar toda a mitologia do fascinante universo de horror criado pelo Ridley Scott. A ideia é boa e pode render um ótimo filme, na mesma pegada dos últimos bons documentários que exploravam filmes cultuados (tipo Room 237 e Jodorowsky's Dune - estou devendo há anos um texto sobre estes filmes...). Uma certeza: será melhor que o Alien Covenant!
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Green Book (2018)
Minha primeira reação, frente a filmes como Green Book, é de pura descrença. Na minha cabeça, já imagino um daqueles filmes certinhos, todo calculado para a temporada de premiações, tal como aquele aluno puxa-saco da sala de aula, que faz de tudo apenas para agradar o professor. Na escola, nunca fui de perseguir nenhum colega, por mais insuportável que este pudesse parecer, numa primeira avaliação minha; costumava me aproximar, deixando estes julgamentos os mais íntimos possíveis para conhecer qual era a do "certinho". E, na maioria das vezes, a pessoa se mostrava decente, bacana e uma amizade se iniciava. Logicamente, isso só funcionou até antes do Ensino Médio, período em que temos coisas mais importantes a fazer e se preocupar do que sermos maus-caracteres.
Esse tipo de pré-concepção parece resistir em mim. Felizmente, não detrato nenhuma obra antes de assistir, pois isso seria de uma desonestidade imensa. Contudo, fica sempre uma má-vontade em assistir o filme, um descaso ou algum comentário debochado. Quando alguém me chama para assistir, quase sempre ofereço outra opção ("Vamos ver o último do Nicolas Cage?" ou "Tenho tantos filmes para assistir, esse aí terá de esperar!"). Com Green Book não foi diferente, mas minha irmã me convenceu e, no final, foi uma experiência muito prazerosa.
Pra quem ainda não conhece a história, o pianista Don "Doctor" Shirley irá fazer uma turnê pelo interior dos Estados Unidos, incluindo as regiões sulistas, em plenos anos 60. E, para ter uma mínima chance de concluir a turnê, a gravadora contrata um motorista bom de briga para resolver os problemas que, definitivamente, surgirão pela viagem.
A dupla de atores faz um trabalho fora de série - Viggo Mortensen e Mahershala Ali brilham e encarnam seus tipos perfeitamente, com destaque para Ali, que entrega uma atuação complexa, cheia de nuances. Seria fácil criticar e antipatizar com o pianista, mas ele é muito mais profundo do que se possa imaginar. E só uma grande atuação para captar essas sutilezas.
Um dos maiores destaques do filme reside na sua semelhança com grandes dramas do passado que sabem dosar muito bem os sentimentos que querem passar. Ora, como não se lembrar por exemplo de filmes como Mr Smith Goes To Washington, com seu tema sério e, ainda assim, com espaço para risos com o deslumbramento de James Stewart ao chegar na capital? Ou ainda The Bishop's Wife, com Cary Grant fazendo suas estripulias com o pobre David Niven, um pastor humano demais com seus problemas mundanos. São apenas dois exemplos de filmes da Hollywood clássica, que sabia muito bem brincar com os gêneros, não se restringido a categorias estanques. Green Book lida com o tema racismo, óbvia peça central da história, mas desenvolve bem seus personagens complexos, servindo para vermos que sempre há algo de cômico nas adversidades da vida. Especialmente sendo meros expectadores da vida de duas pessoas que aprenderam muito sobre elas mesmas, durante essa aventura improvável.
Um dos maiores destaques do filme reside na sua semelhança com grandes dramas do passado que sabem dosar muito bem os sentimentos que querem passar. Ora, como não se lembrar por exemplo de filmes como Mr Smith Goes To Washington, com seu tema sério e, ainda assim, com espaço para risos com o deslumbramento de James Stewart ao chegar na capital? Ou ainda The Bishop's Wife, com Cary Grant fazendo suas estripulias com o pobre David Niven, um pastor humano demais com seus problemas mundanos. São apenas dois exemplos de filmes da Hollywood clássica, que sabia muito bem brincar com os gêneros, não se restringido a categorias estanques. Green Book lida com o tema racismo, óbvia peça central da história, mas desenvolve bem seus personagens complexos, servindo para vermos que sempre há algo de cômico nas adversidades da vida. Especialmente sendo meros expectadores da vida de duas pessoas que aprenderam muito sobre elas mesmas, durante essa aventura improvável.
Além da inevitável comparação com Road Movies, Green Book me lembrou principalmente os filmes de dupla policiais, obras máximas em colocar dois sujeitos de natureza totalmente diferente, enfrentando suas diferenças frente a um mal em comum. A diferença é que em Green Book, os protagonistas estão enfrentando eles mesmos - seus medos, suas dúvidas e sua relação com o mundo injusto que os cerca - qual o papel de um homem dentro de uma sociedade e até que ponto ele deve continuar a atuar conforme se é esperado dele?
Retomando as referências aos grandes filmes da Hollywood clássica, o filme termina na época de Natal, fechando o aprendizado dos personagens num período consagrado como o de mudanças e evolução pessoal - uma das metáforas que mais gosto em relação ao Natal. Trata-se de uma bonita mensagem de esperança, numa época de muita desilusão como a que vivemos. Seria uma ótima ideia um filme leve, profundo e irradiante como Green Book levar o Oscar de Melhor Filme para casa. Não me culpem pelo meu otimismo...
Assinar:
Postagens (Atom)